quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Escritora Convidada: Patrícia Grah

A roda gigante e a nostalgia do que não vivi


Gosto de observar tudo por onde passo, as pessoas e suas reações, comportamento, as coisas. Outro dia, passeando por um parque de diversões, reparei que em meio à alguns outros brinquedos e atrações que foram desativados, deixara de existir também uma roda gigante. A estrutura do seu acesso ainda existe: um corredor murado, a placa indicando a direção do brinquedo e a sapata, mas o enorme e atrativo brinquedo não mais. Eu não a conheci, a não ser por fotos. Talvez seja por isto que fiquei ainda mais curiosa e fui buscar informações à respeito dela e do por quê de o parque ter eliminado uma das suas principais atrações, mas não encontrei nada. Tenho uma vaga lembrança de um boato de acidente, mas não confirmei isto. Por alguns instantes fiquei imaginando muitas coisas, primeiramente, o que havia acontecido ali, depois imaginando como foi o processo de desmontagem. Pensei que deve ter sido um trabalho bastante delicado e demorado. Mas o que mais mexeu comigo foi imaginar as histórias construídas ali. A quantidade de pessoas que por ali passaram, as emoções, os medos...  A quantidade de histórias, fotografias, conversas. A quantidade deabraços, os beijos, os gritos, os sorrisos. Tudo isto me deixou bastante intrigada e curiosa, mas não pude ir além disto, a não ser concluir que a roda poderá nunca mais existir, mas estas recordações certamente jamais serão apagadas...


Sobre a autora:
Patricia Grah, Taioense, amante e estudante da música, escritora e leitora nas horas vagas.
Extrema, precisa, sentimental. Sonhadora, expressiva e batalhadora. Gosta de viajar ao som de um bom rock, aliás, adora viajar. Não tem pretensão de agradar a todos e é justamente este seu jeito que desagrada a alguns, que faz com que conquiste outros.
Gosta de escrever o que vive e sente, e também de viver o que escreve.
Atualmente escreve no blog cabana cult e apartir do mês de setembro passará a escrever mensalmente aqui no Cooperativa das letras na data 24.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Zumbi (Tiago Nascimento)

Mudado Modificado Morto
Nasci um e vivo outro
Morro a cada opção que faço
A cada mutação que passo
A cada escolha A cada passo


Transformado Reformado Outro
Nasci vivo e vivo morto
Um suicídio não previsto
Uma inequação Um rabisco
Quem sou eu? Ainda existo?

domingo, 19 de agosto de 2012

A Bela Adormecida (Vana Comissoli)


Quando as brumas começaram a aparecer e se por, como véu de gaze, diante do sol tornando tudo levemente cinzento e úmido, comecei a bocejar. Talvez o descolorido que retorcia o mundo, ou o mar que se emendava no céu, ou o arrepio da pele... Indecifrável... Indefinível. Um sussurro de medo acompanhava meu sono a alargar-se pelos dias.Ainda nos reuníamos junto ao fogo sagrado ouvindo nossa rainha, aprendendo com o Mago, mas isso foi antes, muito antes do Tudo.
Os barcos perderam o rumo e quase não saíamos mais da ilha, a volta se tornara um ponto de interrogação riscado forte como um raio queimando os troncos retorcidos de antiguidade. Nada havia a fazer além de sortilégios que perdiam o efeito mais rápido do que um piscar de olhos enquanto nossa pele se tornava áspera e poeirenta apesar dos creme de hamamelis e sementes de uvas.
Uma indescritível tristeza tomou conta de meu coraçãoe meus sentidos, deitava-se sobre meus olhos como venda arrancando a conhecida intuição e a certeza do Poder. Pareciame esquecer que era Morgane, a concebida pelo furor do vento e a luz das estrelas.A eterna herdeira do trono da Terra,de ventre farto e braços mornos. Todas éramos Morgane. Todas nos batíamos pelas paredes transparentes que se erguiam aos poucos construídas por mãos feitas de espadas e palavras.Sobretudo palavras. Tão fortes e poderosas que arrebentavam os altares desacrifício, os círculos de pedras e tornavam as orações meras frases esfiapadas de nuvens. Vozes masculinas estuprando nosso mundo feminino. O poder da Deusa caído como as vestes que cobriam nossa nudez pálida. Avalon vendo seu trono ruir carcomido por famintos vermes.
Naquela noite deitei-me com o a infusão ao lado, não havia medo ou dúvida em mim, simplesmente era hora de dormir, não importava por quantos séculos, ou milênios.Um dia, depois que as folhas todas tivessem vicejado e morrido, que rumores inconcebíveis já tivessem se perdido na poeira do Tempo, viria o Príncipe me despertar e seria novamente Morgane, a sempre presente força do gestar e parir sonhos e gente, ideias e transgressões. Levemente cruel como convém a uma mulher e sensual como também é esperado. Sempre bela aos olhos de quem me amasse. Eu e todas as minhas irmãs.
Séculos se passaram em meus pesadelos cheios de sangue e dor, onde os homens se matavam em nome de qualquer estandarte, fosse ele legítimo ou não, quase nenhum era, haviam esquecido os preceitos ancestrais e com isso perdido o rumo. Tornaram-se senhores de uma terra que lentamente devastavam, rolando sobre cadáveres de crianças esfomeadas, animais extintos e sob o reinado do mais cruel dos reis: o másculo Valor Econômico.
Não vi quando o sol começou a furar as brumas silenciosas, nem percebi a aproximação daquele que despertaria a Razão e o Amor novamente em mim. Vinha em um cavalo branco e o trote compassado era o único som que eu conseguia distinguir em meio ao silêncio que se estendia através dos gritos do mundo.
Beijou-me delicadamente depois de lutar contra os grossos liames que me mantinham prisioneira e que se retorceram sobre meu leito com o passar dos séculos. Não rasgou minhas vestes, nem tentou obter meu corpo com a insensatez de dono. Não trouxe rosas e nem doces, apenas as mãos calejadas e vazias de mim. Cicatrizes cobriam seu corpo e o belo rosto. Muitas cicatrizes.Tão velhas quanto o tempo em que a bruma nos fechou em seu círculo sufocante.
Acordei lentamente do longo e exaustivo sono, retirei dos olhos a película que os obscurecera e dei a mão aquele que viera buscar o que fora renegado pelos senhores da cobiça, da inveja e do medo: a dura doçura de uma mulher.
Andamos de mãos dadas trocando confidências, eu consciente de que meus terrores não haviam sido pesadelos, mas a realidade mais crua queimada em fogueiras de bruxas, estigmatizada como reles vaso de sêmen, açoitada por músculos fortes, entregue à ralé como espólio de guerra.
Não havia ódio em mim e nem culpa nele, apenas consequência da insensatez, loucura coletiva que nos tomou a todos. A eles, pela ânsia destruidora do Poder e a nós, pela subserviência e aceitação covarde.
Continuo bela, sempre seremos.Liliths incompreendidas, embora, na realidade,representemos, antes de tudo, a busca da própria afirmação. É verdade que também somos a mulher tentadora, sedutora e que fascina por seus poderes perturbadores. Silenciosas, secretas, cortantes. Aquela a quem os homens temem embora se sentindo fascinados e atraídos. Aquela que jamais será igual, sempre o oposto e assim, só assim, podendo unir-se a ti, Homem, para compormos o Todo.
O acordar chegou como batalha que foi esfriando através da insatisfação que traz a guerra e se transformou, com o beijo do novo Príncipe, numa troca de descobertas e suavidade insuspeitadas ao se darem as mãos e caminharem juntos para o que não deve ser o Amanhã, mas o Hoje constante de ombro a ombro na descoberta da Vida.


Vana Comissoli

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

EM NOME DO SENHOR (Fernando Bastos)

Passei os melhores anos da minha vida acreditando em você, judeu. Seus sectários encheram-me a cabeça de pecados, e me diziam que eu só seria salvo se me entregasse a você. Agora, olha o que sobrou de mim. Cá estou, apodrecendo nessa prisão, pois acreditei que fazendo o que me pedia, eu teria paz.
Não tive.
Lembra quando um de seus prosélitos invadiu minha cama, naquele colégio de seminaristas, quando eu tinha 12 pra 13 anos? Aquele bosta me violentou, se apoderou de meu corpo frágil, partiu em cacos minha inocência. Por que o matei? Você mesmo disse que quem fizesse algum mal a uma dessas criancinhas, era melhor amarrar no pescoço a mó de um moinho e lançá-lo ao mar. Demorou dez anos para cumprir seu desejo, Mestre, mas cumpri. Eu não tinha uma pedra para amarrar no pescoço daquela infeliz criatura, mas não foi difícil conseguir uma faca de bom fio. Ah, como foi divertido passar-lhe a faca na jugular, e ver o chafariz de sangue espargir pra todos os lados, inclusive sobre minha cara; de felicidade, diga-se de passagem.
Foi tão doce matar minha primeira vítima, algo como um orgasmo depois de ter segurado o tesão até não aguentar mais. Os outros foram mais fáceis, e não tive nenhuma crise de consciência nos segundos precedentes ao ato. Não me olhe com essa cara, você não é o mesmo deus do Velho Testamento? Fiz o que me pedia. Deixa ver, Levítico capítulo 20, 13, “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos serão mortos”. Não importava se um deles era meu irmão e o outro meu melhor amigo de infância, perfurei os dois sodomitas à bala, cortei-os em pedaços e... o resto você sabe. Engraçado que não tive nenhum mal estar, nenhuma congestão.
Agora, o que me deu mais prazer, foi liquidar com meu pai, aquele ateu filho da puta. Ele resistiu, não queria ir à igreja comigo, mas eu falei que se ele fosse e acreditasse em você, eu desistiria do sacerdócio. Aceitou. Foi tão bonito e incrivelmente emocionante vê-lo se ajoelhar ao meu lado! Mas infelizmente, ele disse que não ia se converter; foi seu grande erro. Antes que eu o atingisse com a pedra que eu trouxera na mochila, li em voz alta Lucas 19,26 pra ver se ele compreendia. “Aqueles que não me aceitarem como rei, trazei-os aqui e matai-os na minha presença”. Ele não esboçou nenhuma reação, quando me viu levantar a pedra com ambas as mãos; penso que seus olhos não acreditaram que eu pudesse fazer aquilo. Acertei-lhe o crânio com um golpe certeiro. O corpo ficou se debatendo como um epilético sobre o banco envernizado, e, para não ter dúvidas, dei-lhe mais umas dez golpeadas na cara. O sangue melou o banco e o piso da Matriz; seu rosto ficou uma massa pastosa de carne, sangue e ossos quebrados. Eu ainda olhava para meu pai agonizando, quando os policiais apareceram.
Agora, estou aqui, Senhor, nesse cubículo fétido, infestado de pulgas e baratas. Se você é Deus, sai dessa cruz, e repara todos os males que causou em mim.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

No mundo da Lua - Crônica da tristeza (Sônia Pillon)




Tristeza é o nome de um bairro nobre de Porto Alegre, cidade onde nasci e passei a juventude. Lá, tristeza para mim só existe no nome, porque é também o bairro que carrego boas lembranças. Da última vez que lá estive, junto com meu pai, passei a associar tristeza a uma visita calorosa e portanto, repleta de alegria...


Tristeza é irmã gêmea da melancolia, prima da desolação e do desânimo. Nos casos mais graves, vira depressão... Lembra uma árvore no outono, quando as folhas amarelam e caem, tingem a terra de cinza, para depois se transformarem em adubo... E é aí que acontece o milagre da natureza, quando o adubo vai fortalecer a árvore que formará novas folhas...


Algumas vezes a tristeza vem precedida de uma angústia inexplicável, de um aperto no peito, uma dor que não dói exatamente, mas que incomoda, silenciosa... Muitas vezes, vem junto com lágrimas involuntárias, quase inseparáveis... É aquela sensação inexplicável de desconforto, de querer ficar enrolada no cobertor por mais tempo, de não querer ouvir, nem ver ninguém...


Todavia, em outras vezes a tristeza vem sem avisar, através de um fato, ou mesmo de situações ruins que se repetem... e repentem e repetem e repetem sem solução visível... Como se a luz no fim do túnel demorasse infinitamente para iluminar a face da gente...


A vida é feita de momentos, em que a alegria e a tristeza se intercalam como crianças na gangorra. Faz parte.


Grandes expectativas, planos frustrados, aquela tão sonhada viagem adiada, os investimentos que não renderam o esperado, decepções... Que esse mundo não é um mar de rosas, todo mundo sabe. O difícil é estar preparado para o inesperado, para aquela certeza de que é preciso matar um leão por dia para sobreviver nessa selva chamada “Civilização”.


O ser humano bem que poderia ser mais humano, não é mesmo?... Menos egoísta, mais solidário, mais gente. Mais engajado. Mais interessado em fazer a diferença no mundo e fazer a sua parte para mudar o inaceitável, o inconcebível.


A chuva cai e o vento uiva lá fora, sacudindo as vidraças e as portas. Já é madrugada. Olhando da janela, dá para ver a Sombreira de folhas verdes envernizadas pela água, sacudida pelo vento, para lá e para cá, continuamente, como que se debatendo...


Mas se a alegria é caprichosa e nem sempre está presente, o jeito é buscar forças no recôndito da alma e buscar motivos para sorrir. Para espantar a tristeza de vez! Em um tapete mágico, ou no cauda de um cometa... Nas asas da imaginação, a gente levita pelo céu, com a lua e as estrelas, e cria um outro mundo onde tudo é possível, num piscar de olhos...


Sônia Pillon é jornalista e escritora, autora residente dos sites de literatura Letras et Cetera e Cooperativa de Letras.


 

 

 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Aturdido (Marcio Erino Ochner)




Ecos sinuosos de manuseio manhoso,
borboleteiam sobre a cabeça mecanicamente pensante...
saboreando o gosto amargo do metal batido...
sorvido em pequenas moléculas postas em um limitado frasco...
num pressionar de dedos, coagindo, libero a tampa...


Solução contínua, escorrega numa fração metálica,
promovendo ação inversa ao ato impensável tomado provisoriamente...
Pressionado por impulsos... tão pensante corpo promove recuo num expurgo atômico o maldito carcomido...


 

 

 

sábado, 11 de agosto de 2012

Só caminhando ou, também, cantando. (Adriana Niétzkar)

Não se encantar por quem não se encanta por você. Repete a mente, o mantra que criou. É simples, é saudável,é racional. O coração não é. O coração é um cavalo selvagem atrelado a carruagem da mente. Pode-se segurar as rédias com firmeza e seguir a direção em que se quer. Mas se o condutor-mente se distrai, se olha a paisagem, o cavalo dispara. Alguns aprendem cedo, com o primeiro feitiço a como guiar a carruagem do amar e até desviar os olhos do caminho sem perder o controle; a direção. Mas sempre há sons e sabores que fazem esquecer das rédias deslizando das mãos, enquanto o cavalo dispara. Quando aquele que conduz, sem pensar para que lado o galope o levará, sente o vento nos cabelos vive um instante que é só coração. E quando o cavalo para, por um instante mente e coração, homem e garanhão, se reconhecem pelos olhos. Até o condutor, com mãos firmes, retomar o caminho racinalizado, ignorando o desejo de soltar as cordas e montar em pelo; em galope contra o vento. Mas quando isso acontece, quando a mente deixa-se levar na disparada do coração, nasce um poeta.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tipologia de Leitores (Ítalo Puccini)

‘Tava eu lendo umas coisitas teóricas sobre práticas de leitura e sobre a questão dos professores serem, ou não, sujeitos-leitores, quando me deparei com um texto em que a autora, com um embasamento teórico bem apresentável, indica uma “tipologia de leitores”, na qual ela classifica os professores participantes da pesquisa dela em “grupos de leitores”. Algo bem interessante de se pensar, nos tipos de leitores que somos. Porém, com a relevância de não nos limitarmos a essas categorias, uma vez que a leitura – e consequentemente os leitores – não pode ser pensada somente dentro de categorias.


Identifiquei-me em três das tipologias apresentadas pela autora (inclusive, preciso fazer referência a ela, ora pois: Ângela da Rocha Rolla, Doutora em Teoria Literária/PUCRS). E importante ressaltar que as descrições dessas tipologias apresentam como fundamento as vozes dos professores por ela entrevistados para a pesquisa.


Vamos lá:


1. Leitor compulsivo: É eclético: da história em quadrinhos ao último lançamento de um escritor valorizado pela crítica, tudo lhe desperta a curiosidade. Lê o que lhe cai nas mãos, mas mostra um espírito crítico em relação aos textos, emitindo opiniões a respeito de autores e obras. Tem livro espalhado por toda a casa, a leitura está em primeiro plano: são pilhas de livros que compra ou pede emprestado. Adora frequentar bibliotecas ou tem a sua própria. Lê de tudo a toda hora, lê no ônibus, no banheiro, lê na hora de dormir. Qualquer minuto livre que tem, ocupa nessa atividade. Às vezes até esquece que tem corpo, embriaga-se com a leitura.


(Já fui mais compulsivo. Mas a essência não se perde).


2. Leitor profissional: Não é um leitor ingênuo, ele lê para analisar estilos, buscando o valor estético das obras. A leitura literária e a produção de textos fazem parte de seu cotidiano profissional, são o instrumento do seu trabalho. Suas leituras constituem-se de obras técnicas sobre teoria literária e obras literárias de autores clássicos e modernos. Frequenta livrarias e círculos de leitores, tem um apreço especial por livros, que adquire com frequência, na medida de suas condições financeiras. Lê ficção para fundamentar as atividades voltadas ao ensino de literatura, oficinas de leitura, redação de artigos, projetos de pesquisa e também para seu lazer. A produção de textos é exigência do trabalho profissional, que apresenta oportunidades de realização de palestras, conferências, defesas de tese, publicações, etc. Faz leituras informativas, técnicas e literárias. É um iniciado em estudos literários. A leitura é prioritária na sua vida, constituindo-se não em trabalho penoso, mas em atividade realizadas com prazer.


3. Leitor escolar: Lê com um objetivo principal: indicar obras literárias para os alunos. Há uma preocupação com o trabalho didático, que absorve toda a sua disponibilidade para a leitura. Esta se reveste de obrigatoriedade, com a finalidade única de desenvolver seu trabalho docente, que consiste na análise e no comentário das obras solicitadas, cujo assunto não diz respeito aos seus interesses, nem ao seu gosto literário, principalmente quando se trata de literatura infantojuvenil. Por força da necessidade imediata e do pouco tempo disponível, realiza leituras rápidas, sem fruição. As leituras escolares não são consideradas leituras de lazer, para as quais na há espaço no cotidiano desse leitor.


Há, ainda:


Leitor Diletante: É um leitor ingênuo, que lê sem conhecimento prévio, por puro prazer. Tem um livro de ficção na cabeceira. Lê obras de autores consagrados ou popularmente conhecidos. Prefere literatura de consumo fácil: histórias de amor e de suspense, enredos de folhetim. Os critérios de escolha para ler são aleatórios, ao sabor do momento.


Leitor apressado: Caracteriza-se por ser um sujeito dinâmico, muito ocupado com o trabalho, que lhe deixe poucas horas diárias de lazer. Lê para se informar dos acontecimentos recentes e para se atualizar em assuntos diversos como política, religião, pedagogia, psicologia, espiritismo, etc. Não lê ficção ou lê eventualmente.


Leitor superficial: Lê eventualmente, sem privilegiar um tipo de leitura. Não manifesta preocupação com o valor estético das obras, nem mesmo as avalia. Escolhe os textos ao acaso, o que lhe cai nas mãos, geralmente a literatura de massa ou gêneros já consagrados, como o romance romântico. Não costuma realizar leituras para aprimoramento profissional, preferindo as de caráter utilitário e informativo.


            Leitor técnico: Faz leituras para estudo do trabalho docente ou de algum curso de especialização que está realizando. São leituras técnicas que versam sobre assuntos relativos às disciplinas que está cursando como aluno ou para aprofundamento teórico no campo profissional. As leituras informativas se reduzem a uma rápida olhada no jornal do dia, sem espaço para as reportagens de revistas. A leitura literária está ausente, raramente lê ficção, porque a leitura científica lhe toma todo o tempo disponível.


Não-leitor: Com uma história de vida distante dos livros, sem valorização da família na primeira infância, o não-leitor apresenta um comportamento avesso à leitura literária. Tem um contato esporádico com periódicos, que lê para se informar dos acontecimentos recentes e não consegue acompanhar um texto ficcional até o fim. Não dispõe de uma biblioteca, estando a leitura como lazer distante do seu cotidiano, que também dispensa hábitos culturais como cinema, teatro, músicas, esporte e outros.


E eu lanço aqui a proposta de que os leitores desta croniqueta possam registrar com quais tipologias se identificam, em que tipos de leitores acreditam que se encaixam. Enfim, que possamos pensar um pouco nos leitores que somos, ou que ainda podemos ser. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

(Thiago Daniel)

– Morgana! – Ele chamou.

Não respondi.

– Morgana!

Ouvi seus passos apressados.

– Morgana! – Já do meu lado.

Olhei nos olhos dele. Dei de costas.

Agora tenho que tocar punheta, só porque esse filho da puta não entende que não é pra me chamar assim na rua.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Profissões (Marcelo Lamas)

Já dizia um amigo, filósofo de bar: “Toda profissão tem seu drama”. Geralmente os pedidos de consultoria acontecem em todos os setores, como alguém que chega pro veterinário e diz: “Podes dar uma ‘olhadinha’ no meu cachorro?”. Esses pedidos começam com um prenúncio, seguido de um predicado elogioso: “Tu que és um escritor moderno, sabes se ‘paraquedas’ tem hífen?”.
Certa vez recebi um telefonema de uma desconhecida:
- Oi tudo bem? Sou amiga da fulana, ela te indicou pra me ajudar. Tu que és professor, podes me ajudar a resolver um problema?
- Opa, se eu puder te ajudar.
- Eu mandei uma sandália pro conserto e fiquei sem grana pra buscar. Quando arrumei o dinheiro, já haviam se passado três meses e eles venderam pelo preço do serviço para outra pessoa. É correto isso?
Depois de sugerir que ela procurasse o Procom pra se aconselhar, a conversa seguiu e ela perguntou: “De que mesmo que tu és professor?”. Futuramente ela cursou e formou-se naquela faculdade.
Outro dia, passando pela mesa de uma novata, no meu outro trabalho, a guria me chamou:
- Me disseram que tu também és professor. É verdade ou é pegadinha?
- Ah, sim, é verdade.
- Podes me explicar como funciona esse negócio de série A e rebaixamento?
Bem, a jovem estava mergulhada num ambiente excessivamente masculino e estava tentando entender o assunto das horas vagas. Tentei ajudar:
- São quatro séries. Os últimos da série A são rebaixados para a B e assim por diante. Os primeiros vão pra Libertadores.
Eu precisei de um papel, pois não consigo explicar nada sem escrever. Uma limitação minha, não da menina. Ela seguiu:
- Quem faz mais gols, faz mais pontos? O que é “pontos corridos”?
Expliquei que a vitória vale três e o empate um. Que todos jogam contra todos, duas vezes.
Naquela altura, a menina já estava com o jornal aberto na tabela de classificação.
Foi aí que eu perguntei:
- Pra qual time você torce?
- Como eu faço pra escolher?
Surpreso, respondi:
- Torça para o Grêmio.
- Ah! É? Qual é o critério pra escolha?
Fiquei sem resposta, falei que depois eu lhe explicava e voltei a trabalhar, afinal era para aquele fim que eu estava lá.



Marcelo Lamas, autor de “Mulheres Casadas têm Cheiro de Pólvora”.
marcelolamas@globo.com

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ginástica (Fred Paiva)


Duplo mortal carpado seguido de uma rondada flic-flac com piruetas,
uma reversão dupla prensada... sem salsicha
e um chupe-chupe de doce de leite grande.


Que difícil esse negócio de Olimpíada!
Dá uma fome...