Quando ligou o computador, naquela tarde fria de final de outono, prenúncio de inverno, teve uma surpresa e uma constatação. Então era por isso que os contatos terminaram? O que queria, então, aquela figura que se desmanchava em gentilezas toda vez que nos encontrávamos na sala virtual, para trocar confidências e programar encontros que nunca aconteceram, para comentar o filme agraciado com o Oscar do ano ou o próximo livro do nosso autor preferido?
Não, eu não acalentava ilusões, não, mas ser bloqueado assim, sem mais nem menos, faça-me o favor... Tudo falsidade, então? Tudo blá-blá-blá inútil? Não que eu esperasse um mar de rosas, uma vie en rose (ah, saudades das interpretações da fantástica Edith Piaf e, particularmente, de sua La vie en rose), um sei lá o quê mais... Indignação, frustração, vergonha, culpa pelo tempo que roubei à família para passar com um miasma extrovertido, uma figura de ficção criada a cada dia, um jogo em que eu sabia das chances (muitas) de insucesso.
Entretanto, mesmo acreditando que nunca seria lido, compus um poema a ser remetido, via e-mail, para o endereço conhecido. Não teria mais interlocutor no Messenger diário, não, mas quem sabe ele conseguiria incomodar um pouco, se o objetivo fosse alcançado, isto é, se a leitura fosse realizada. De qualquer forma, precisava extravasar, tirar a mão que me apertava a carótida e tirava meu ar, já rarefeito pela emoção.
Escrevi e formatei. Segue abaixo, como registro dessa loucura desmesurada:
Ariadne
Tu me deste uma ilusão e eu agarrei-me a ela como se fosse verdade. Não era, e a descoberta dessa realidade fez-me cair em mim e, dada a altura, machucou. Muito.
Como era bonita a ilusão: nós a alimentávamos várias vezes ao dia, via mensagens no celular e, à noite, invariavelmente, no MSN, via internet, horas a fio, ficávamos vendo-a crescer.
Ficou maior que nós, essa ilusão... E tão grande foi que morreu de inanição, não a podíamos mais alimentar, estava roubando-nos, comendo-nos, tirando nosso sossego, tínhamos que tratá-la, fazê-la bonita, dar-lhe ares de Realidade.
E agora, quando enfim morre, quase me enterra junto. Eu que a pensava também tua não sei o que nela vias, mas sendo isto ou aquilo, o melhor dela era o seu poder de nos tirar da vida real ou criar uma outra existência, estranha realidade, onde vivíamos com a ilusão que alimentávamos, horas a fio, até que o fio da vida nos trouxe de volta, ou não, caso contrário estaria fazendo coisa mais produtiva do que escrevendo sobre ela.
11 jun 2008
Talvez para mostrar desespero, num simbolismo à Van Gogh, colori a página de amarelo, amarelo berrante, amarelo que expressasse um uivo, um grito, uma risada de escárnio. As letras ficaram em preto, mesmo, para efetivar o contraste. Que acentuei aplicando um estilo Negrito. Li e reli, pensei na possibilidade de recepção, no entendimento (ou não) do que escrevi, da fantasia de ser, a comunicação via Messenger, reabilitada. Eu aceitaria? E o tão falado amor-próprio, fadado ao limbo? Quantas vozes na cabeça: faz – não faz, vai – não vai, manda – não manda...
Mergulhei em teu olhar sabendo que me iludiria com a droga mais ardida e tóxica que poderia encontrar. Aquela a que ninguém resiste e que nos leva sempre a voltar a usar com uma inconsequência infantil e irresponsável. Impossível medir consequências diante dela, mesmo que tragédias possam ser geradas, seu poder de sedução é irracional e de mega amplitude.
Amores não dão certo, nem sequer existem de verdade, ainda na volúpia da paixão, as brigas acontecem e os fechamentos emocionais batem a porta na tua cara inexoravelmente. Amores não passam de necessidades psíquicas.
O sonho imperturbável retorna a cada nova decepção, a cada novo encontro desencontrado. Eu sabia disso e jurava estar vacinada, sorrindo meio irônica da busca desenfreada que motiva as pessoas a procurarem o “par perfeito”. Comigo não! Isso jamais voltaria a acontecer, eu deixara este vício há muito tempo, junto com outros não tão nefastos quanto este.
No entanto lá estava eu fascinada pelo movimento de tuas mãos, pelo modo como teus olhos colavam nos meus e sentindo os malditos hormônios batendo palmas no ventre. Não que tivesse decidido ser freira, apenas respondia às necessidades de meu corpo, nada de sentimento, emoção, olhos nos olhos. Isso é para os incautos e não para uma atenta como eu.
Lutar quando é fácil ceder
Poderia ter me levantado com uma desculpa qualquer carregada de ênfase em que todos acreditariam e dando um jeito de nunca mais te ver. Nada mais fácil de executar, afinal nem sequer amigos comuns tínhamos, nos encontrarmos tinha sido uma coincidência fortuita de fim de festa.
Eu sentia teu cheiro como cão sente odor de cio e sabia que uma delícia incompreensível tomaria conta de meus sentidos como se não soubesse qual o resultado final e repetitivo: cada um saindo um pouco mais magoado, um pouco mais descrente deste tal de amor da Carochinha. Já me ferira vezes o suficiente para não querer mais, descobrira que viver sozinha tinha uma paz que outra presença não me permitiria.
Ainda tentei me agarrar na disponibilidade plena de meu tempo, falta de obrigação com a fome de alguém, meu filme favorito rodando sem ter que discutir quem poderia escolher nesta noite e tantas outras maravilhas de não possuir ramo algum, apenas meu próprio tronco ereto rumo ao céu.
Nada adiantou, quando dei por mim estávamos trocando números de telefones, tinha cedido como uma virgenzinha de 15 anos influenciáveis.
Vencer o inimigo invencível
A última coisa lúcida que me lembro de ter pensado foi: Lá vou eu de novo!
O tal amor tem olhos mornos coalhados de açúcar cristalizado. Perfume de todos os deliciosos sabores da vida e cores diante das quais até o arco-íris esmaece. Tem, principalmente, braços e boca que envolvem e comem como um morango maduro.
O certo é nem entrar na paranoia e vencer os neurônios fissurados por uma descarga extra de adrenalina especial. Eu poderia derrubá-lo, tinha certeza, já passara por momentos semelhantes e saíra ilesa sacudindo as tranças. Este inimigo só é forte quando o enfeitamos com rendas, na verdade não passa de um falso brilhante, zircônio de segunda fabricado na linha de montagem de uma psique carente.
Percebi que a peça teatral estava um pouco mais carregada de holofotes e resolvi pagar para ver, assim que provasse minha tese infalível voltaria para casa-peito só minha. Foi desse jeito que manipulei a mim.
Negar quando a regra é vender
Todo mundo se vende por um punhado de ilusões mil vezes desfeitas e a vida é muito mais desenlaces trágicos ou suportados das relações amorosas do que de “foram felizes para sempre”.
Nunca se é feliz para sempre, haveria outra paixão vagabunda qualquer para levar o tal olhar para longe, ou um embaraço psíquico, momento de transformação pessoal, surto psicótico dos diabos guardados na mente insana que temos e, as vozes, antes apaixonadas, se digladiariam em tons acusatórios e terminais.
Como se consegue emburrecer tão rápido, eu nunca entendi. Esquecer aprendizados duramente adquiridos e se deixar levar pelo beiço rumo ao matadouro com um sorriso de bobo da corte. Ao fundo o mugido de bois de corte.
Me vendi, me entreguei sem teres feito esforço algum. O mais risível era saber que, se tu raciocinasses, saberias que também te vendias. Terias os mesmos pensamentos razoáveis voando pela cabeça e se perdendo no aperto de um abraço, no desejo de saciar a boca. Ambos vendidos por um punhado de carícias, de tolas palavras doces, jurando que estavam comprando ouro em pó e sabendo que se tratava de pirita.
Seguimos o sonho da boiada.
Sofrer a tortura implacável
Estava me propondo a sofrer pelos teus olhos, teu corpo, mentindo que era por tua alma e por ti e que poderia suportar qualquer coisa. Mentindo deslavadamente para mim mesma, revendo sem querer, as dezenas de filmes pornográficos sobre amor incorruptível.
Mas se não te tivesse eu me roeria e me ameaçaria de morte por não ter tentado. E se desse certo¿ Se afinal o amor existisse, fosse apenas uma questão de tempo e de chegar a pessoa certa, o Outro da minha vida...
Talvez fosse mais fácil deixar tudo preso num momento passageiro e depois de alguns ou muitos anos lembrar-me de ti pensando no que não vivi, no que não sofri, no que jamais saberia. Seria apenas um breve lamento cheio de se...
As situações não resolvidas que se acumulam na caixa de ossos que carregamos dentro da mente, do corpo, do espírito. Temi este peso e acreditei que, tortura por tortura, melhor aquela que eu vivesse pelo menos a terapia posterior seria mais rápida e um terapeuta babaca não ficaria desenterrando meu pobre pai que, a rigor, não tinha nada com isso além do fato de ter dado um espermatozoide para que outra maluca atrás de amor nascesse e tivesse onde por a culpa. Como se não fosse uma busca ancestral. Acho que ao nascer não se deveria chorar, se deveria gritar: Amor, cheguei!
Romper a incabível prisão
Fosse qual fosse a escolha, eu teria algum punhado de dor à minha inteira disposição. Ou imaginando moinhos de vento sem vento, ou me descabelando para conseguir me segurar nas pás de teus braços.
Tantas coisas pensadas num átimo de tempo, apenas agora que relembro este hiato entre o sim e o não, compreendo que toda minha vida deslizava dentro de mim. Os anos que me aprisionara numa racionalidade que me tornava confortável. Podia rir e sacudir a cabeleira sem me preocupar com o vento desmanchando, mas vazia de mim e de todo sentimento que negava para não sofrer. Eu não sofria nada e também não podia dizer que me felicitava. Um tranquilo deslizar de dias de sol morno que não aquecia. Dias onde as cores intensas não brilhavam nas pétalas que feneceriam e voltariam a ser nada. Como o amor¿
Meus pulsos atados por injunções de perfeição, contos de fadas ouvidos convictamente demais e ordens religiosas inventadas por quem nunca se casou, romperam as amarras e ousei enfrentar os olhos de galhofa dos meus amigos sobre o meu pragmatismo abandonado.
Eu te escolhi.
Voar num limite improvável tocar o inacessível chão
Todos os impossíveis se reuniram em dias que escorregavam de um para o outro sobre as descobertas feitas surpreendentemente.
Olhava a escova de dentes esperando ao lado da minha e sabia que logo poderia me incomodar, os pingos de pasta na pia me chateariam, assim como os copos espalhados pela casa e o banheiro rezingaria com os respingos de teu banho. Tantas outras chatices eu descobriria! E tu me chamarias de boba por ser miudeira e ririas de alguma mania infantil, ou adulta demais. Ririas da minha preferência absurda pela caneca com desenhos de peixinhos e tomarias café nela apenas para implicar. Eu te odiaria solenemente.
Essas coisas ainda não tinham aparecido, deixei para depois, quando o sonho se esboroasse. Enquanto isso resolvemos viver todos os desdobramentos de uma paixão, fazendo de conta que era destino e realizamos todas as loucuras que nosso desejo criou.
Não me lembrava de como podia gargalhar, ou talvez nunca tivesse dado risadas escandalosas como as que dava ao teu lado pelas coisas mais banais. Não era o acontecimento que fazia rir a mim e a ti, mas a felicidade sem rubor que escolhêramos. O motivo é apenas uma justificativa para expormos o que está acontecendo no mundo impalpável, levemente compreensível de nossos sentimentos.
Cotidiano e excepcional se mesclavam como sorvete de chocolate e baunilha, cada um com seu saber único, mais suave ou mais marcante, não fazia diferença para o prazer de degustar. Eu enjoaria, me preparava para isso, não era marinheiro de primeira viagem e a última, só se faz sozinho. Essa era a realidade, a dura terra onde pisaria quando descesse das nuvens.
Havia poeira, cansaço, sono, fome, como em qualquer outra situação, mas... Eu já teria sentido alguma delas¿ Passara por elas, não prestara muita atenção, afinal eram banalidades e algumas difíceis, me neguei a senti-las e descobri a delícia de dormir sem precisar me preocupar se te satisfizera ou não. Bastava para ti que eu estivesse ao lado e para mim bastava saber que te bastaria. E bastar é pouco demais para dizer o quanto é muito.
É minha lei, é minha questão virar esse mundo cravar esse chão
Depois de certo tempo indefinido nos meus registros, aprofundamos a besteira, resolvemos que sim, o Amor descrito e cantado em prosa e verso, surgira para nós com todas as músicas melosas, filmes românticos e superações jamais confirmadas. Resolvemos juntar os trapos, desmanchar as barreiras pessoais e viver sob o mesmo teto, tive direito a ser carregada no colo e a uma noite frente à lareira como a melhor cena idílica possível de ser criada.
Algumas canecas de peixinho foram quebradas, alguns jornais foram rasgados antes de serem lidos, palavras cruéis voaram na arena do quarto e enfiei mil farpas embaixo das minhas e das tuas unhas. Ainda assim estávamos completamente idiotizados pelo Amor e cravamos no chão da vida três novas vidas.
Por que eu me perguntava a cada parto. Por que trago mais gente para vagar em busca do inencontrável é a pergunta que não cala através dos ossos, músculos e presença, acima de tudo presença, de meus filhos.
Não me importa saber se é terrível demais
É batalha todo dia e, às vezes dá uma vontade danada de mandar tudo longe e buscar por mim, por que, às vezes eu nem sei quem sou. Tenho vários nomes agora e muitos sentimentos que se entrechocam, viram guerra, chegam à beira do tapa na cara que me faz tanta falta.
Roo os dentes e bato com a cabeça na parede e posso enlouquecer: quebrar alguns pratos, jogar o resto do miserável leite derramado em parte, pela cozinha toda. Posso me esconder num canto e me desesperar, jogar praga contra a vida que eu não vivi, me chamar de idiota e serviçal. Posso lutar por mim com unhas e dentes e ferir todo mundo à minha volta e faço isso com imenso esforço.
Roo meus próprios ossos e te vejo roendo os teus. Tuas noites insones, tua busca numa responsabilidade que não te permite sonhar.
Vejo tuas costas na cama de encontro às minhas e sei o quanto eu não conheço mais tua linguagem e tenho certeza que erramos, jogamos a vida fora, nos amarramos numa ilusão de filhotes ali ao lado, sorrindo para nós e não podemos sair da prisão.
Grito, de vez em quando, a casa vazia de vocês. Urro, feito bicho, tão mais sábios que nós, compreendem que a aproximação é cópula, mais nada. Logo me recomponho e sirvo a mesa onde comes ruminando. Eu e tu, nos odiando na vida que criamos, esquecidos do sonho impossível que nos reuniu.
E amanhã, se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão vou saber que valeu delirar e morrer de paixão
Agora estou aqui sentada e tenho muitos anos. Penso em todos os enganos, nas nossas absurdas raivas. Revejo teus olhos cansados e, no fundo deles o mesmo convite insano: vem me amar.
Para os filmes, os poetas, os artistas do absurdo, não te amei devidamente. Não fui maravilhosa e fêmea todos os dias e tu não foste o pai recolhedor de minhas dores e, às vezes, nem amante foste. Aquele que desperta a tigresa em mim. Esculhambaste meu ego e acabei com o teu. Choramos abraçados e, a cada abraço desesperado, nos amamos muito mais do que supúnhamos.
Agora, que o tempo permitiu que nos tornássemos amigos, nós mal e mal compreendemos, mas olhamos o que saiu dessa batalha e, sem saber coisa alguma, entendemos que...
Nos damos as mãos.
E assim, seja lá como for vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão
A última palavra que te direi, quando for hora de partir, será:
− Te amo, não importa o quanto foi torto.
E, se fores o primeiro a fazer a grande viagem, pegarás minha mão e me dirás:
− Te amo, não importa o quanto foi torto.
Mesmo que não partilhemos mais os dias e a cama, mesmo que haja mil centenas de quilômetros entre nós diremos do amor que temos.
E assim, seja lá como for, terá fim a terrível aflição e o mundo continuará buscando.
Em uma canção havia o emblemático verso: “Eu troco a liberdade pelo teu perdão”. A música era melosa, pegajosa como quiabo, sem graça. Um dia prestei atenção na letra e notei que ela, apesar da pobreza das rimas e versos, continha um conhecido drama existencial, a eterna dúvida entre ser livre ou se prender em alguém. Fiquei pensando que talvez as pessoas casem por não suportarem o peso da liberdade e o medo da solidão, e no final de contas, preferem ficar presas a uma pessoa do que viver livres como um pássaro. Sartre chega a dizer que "O homem é condenado a ser livre".
Penso que talvez o casamento, tal qual o conhecemos, contrato entre duas pessoas para que sejam fiéis uma a outra, seja uma espécie de prisão. O cantor quando diz que troca a liberdade pelo perdão da mulher amada, dá a entender que ao lado dela, deixará de ter liberdade. E muitas vezes é isso mesmo que acontece. Ao casar, ambos assumem um compromisso de exclusividade sexual e amorosa no qual a liberdade não tem vez. E sem liberdade, não há felicidade.
Em matéria do jornal Estadão de São Paulo, de 4 de dezembro de 2008, somos informados que no Brasil, para cada quatro casamentos, um termina em divórcio. Matéria da revista Veja de 11 de agosto de 1999, revela que “Nos Estados Unidos, 60% dos casamentos acabam em divórcio. Na Inglaterra, são 40%.
A tragédia podia ser pior se não existissem os obstáculos que dificultam a separação; aí caríssimos, o número de divórcios seria bem maior, podem apostar. Considerem que o divórcio se traduz em pensão para filhos, dividir o patrimônio se o casamento foi em regime de comunhão de bens, sem falar nos transtornos psicológicos causados pela separação.
Para os técnicos do IBGE, uma das causas para as altas taxas de divórcio é a mudança de comportamento das pessoas, que aceitam o divórcio com mais naturalidade. O humorista diria que a causa do divorcio é o casamento.
A verdade é que muitos homens e mulheres ainda praticam uma “monogamia social”, como dizem os cientistas, isto é, para a comunidade se apresentam como monógamos, mas ocultamente são polígamos, encontrando às escondidas parceiros para o sexo, sem o consentimento do parceiro.
Não creio, como aventam alguns especialistas, que a solução esteja no casamento aberto – cada um pode sair por aí transando com quem quiser. O ser humano ainda carrega o gene do ciúme, e poucos suportariam ver o cônjuge nos braços de um terceiro. De modo que um novo formato deveria ser experimentado: a “monogamia aberta”. Fui ao Google para ver se já existia essa expressão e encontrei só um resultado.
Alguns praticantes da monogamia aberta moram em casas separadas e eventualmente passam alguns dias da semana juntos na mesma casa. Na monogamia aberta, não há restrição para cada um viajar, passar férias, sair à noite em festas e baladas de vez em quando sozinhos, sem a presença do parceiro. E não há proibição para se ter amigos de ambos os sexos, onde possam se frequentar, tudo no maior respeito e confiança, sem a inclusão de sexo, claro.
Naturalmente, tanto para um relacionamento aberto (onde não existe exclusividade sexual) quanto para uma monogamia aberta (onde existe a exclusividade sexual) dar certo, o casal precisa ser emocionalmente maduro, confiar plenamente um no outro, e ter controle muito forte sobre o ciúme. E isso, poucos conseguem. Portanto, a monogamia aberta não é para qualquer um.
De modo que assim como muitos autores preveem uma mudança nos relacionamentos do futuro, onde as pessoas se distanciarão cada vez mais do casamento fechado, creio que a monogamia aberta, como foi exposta resumidamente, é a que mais terá chances de se firmar e fazer felizes os envolvidos. O que não quer dizer que o casamento aberto, o sexo a três, o suingue, o poliamor e todo tipo de casamento em que não se exija exclusividade sexual não possam também fazer os participantes felizes. Tudo vai depender da maturidade e da vontade de cada um dos envolvidos em proporcionar prazer e alegria ao outro, sem deixar-se sucumbir pelo ciúme.
Alguns especialistas reputam que daqui há umas duas ou três gerações, as pessoas terão mais de um parceiro amoroso, um para momentos românticos, um para conversas intelectuais, um para dividir as responsabilidades domésticas, um só para sexo, e assim por diante (a bem da verdade, tais formas de se relacionar já existem, sobretudo em grandes centros, mas ainda são casos esporádicos). Como será que esse morador do futuro vai olhar o casamento de seus antepassados, formado por duas pessoas, vivendo sob o mesmo teto, dormindo na mesma cama todo dia, numa união com tantas proibições, tediosa, cheia de brigas e sem muitos atrativos? Possivelmente com um olhar de espanto e pena. Muita pena.
“Uma rosa é uma rosa, é uma rosa...” O poema mais célebre da norte-americana Gertrude Stein aparentemente não diz nada, mas ao mesmo tempo diz tudo para os que apreciam a beleza, o colorido e o perfume singular de uma rosa, com suas pétalas aveludadas que deslizam nos dedos... “As rosas não falam... simplesmente as rosas exalam...”, já dizia o saudoso Cartola, em uma das suas mais belas e inesquecíveis composições.
Não por acaso, é uma das flores mais populares do mundo, cultivada desde a Antiguidade. Estudos apontam que a rosa cresceu nos jardins asiáticos há 5 mil anos. Na forma “selvagem”, teriam sido encontrados fósseis há 35 milhões de anos!... Cientificamente falando, pertence à família Rosaceae, com mais de 100 espécies e milhares de variedades...
Mas para os que apreciam o seu indiscutível aroma, esses detalhes técnicos pouco importam! Aos que cultivam, a satisfação vem com o desabrochar da flor, após todo o esmero com o plantio e os cuidados com a roseira.
Há os que gostam de presentear com rosas, como uma forma de expressar seus sentimentos de amor ou amizade. E para os que gostam de serem lembrados em datas especiais, ou surpreendidos por um buquê, receber rosas é muito prazeroso.
Portanto, quando entrei no palacete construído pelo arquiteto e barão do café Francisco de Paula Ramos de Azevedo - a Casa das Rosas - espaço cultural da Avenida Paulista, bem no coração de São Paulo, fiquei bastante impressionada. A edificação, aberta ao público, sedia exposições temporárias e saraus de poesias.
Imponente e requintado, o espaço proporciona uma volta no tempo. Os detalhes arquitetônicos se mantém praticamente intactos, assim como grande parte do mobiliário. Chamam a atenção os vitrais e a majestosa escadaria que leva aos aposentos superiores. Sem dúvida, um local perfeito para um filme de época!
Mas é no jardim, repleto de rosas, que o visitante mais atento pode captar toda a poesia do lugar! Elas estão ali, altivas e belas, fortes e frágeis ao mesmo tempo, enchendo os olhos de quem as aprecia e exalando um suave perfume... Fico tão tocada com a beleza e a magia do lugar que não resisto a cheirar uma das rosas e a registrar em fotografia... Como não levar uma perfumada lembrança da Casa das Rosas?...
Sônia Pillon é jornalista e escritora, autora residente dos sites de literatura Letras et Cetera (http://nanquin.blogspot.com.br) e Cooperativa das Letras (http://cooperativadeletras.wordpress.com).
O primeiro chegou comentando: “Ela só fica lendo aquele livro. Eu posso sair pra fazer qualquer coisa que ela não ‘dá falta’ de mim”. Eu tinha lido uma nota sobre o fenômeno editorial da trilogia “Cinquenta tons de cinza”, logo que o primeiro livro de sucesso da inglesa, E.L. James, chegou ao Brasil, classificado como pornô soft, erótico, entre outros. Certa feita, num curso para escritores, uma colega perguntou para a professora: – Qual a diferença entre livro erótico e pornô? A tiazinha PhD respondeu: – Filha, o livro erótico você lê segurando-o com as duas mãos. O pornô com uma só. Vi mulheres lendo no aeroporto, no shopping e na biblioteca, logo, consegui classificar os 50 tons. Fui procurado incontáveis vezes pela gurizada. Sendo o “amigo escritor”, eu tinha obrigação moral, no inconsciente deles, de ter informações confiáveis e, até, exclusivas sobre os livros. E eu gosto de opinar – sobre qualquer assunto – na informalidade, depois do futebol, lá no boteco, na hora do almoço. Pra não decepcionar, fui atrás das leitoras vorazes e elas foram unânimes em dizer que os homens também deveriam ler. Li opiniões em revistas dos dois gêneros. Fucei nos livros. Quem está fazendo o mundo girar ao contrário é o protagonista, Christian Grey, que seduz uma virgem estudante. Ele jovem, empresário, rico, tem e pilota um helicóptero, gasta três horas nas preliminares (descritas em três páginas), gosta de ficar conversando depois do sexo e deu-lhe todos os presentes possíveis e, ainda, a convenceu a assinar um contrato como “submissa”. Uma grande ficção. Mas o que interessa é que as pessoas estão lendo e, também, que a nossa classe masculina não poderá ser acusada friamente de ser pervertida só porque estes assuntos são – ou eram – mais frequentes nas nossas conversas, afinal nossos temas são mais restritos (sem bolsas, manicures, vestidos balonês organização da casa, ou qualidade do serviço da diarista). A partir desta revolução estaremos mais livres para propor coisas diferentes e as nossas parceiras não ficarão preocupadas com o que vamos pensar sobre o conhecimento delas acerca das propostas. O importante é que tudo valha para os dois lados: as sugestões, os consentimentos e os prazeres.
Marcelo Lamas, autor de “Mulheres Casadas têm Cheiro de Pólvora”. marcelolamas@globo.com
Muitos diziam que não chegaríamos ao ano 2000, que não viveríamos para ver a passagem do século porque o mundo acabaria justamente na virada de 1999 para 2000. Mas nós chegamos sim, vivenciamos este raro momento com muita festa e muitos fogos de artifícios.
Em um momento em que a era digital já invadia as nossas vidas, seja através da novela, gravada e transmitida de forma digital, seja pelas fotografias tiradas em câmeras digitais e impressas em papel por opção, seja pelos exames que antes eram chapas escuras com imagens mais claras e hoje são fotos impressas em papel ou até mesmo gravadas em DVD, se torna complicado para algumas pessoas que de repente se vem excluídas de um mundo que até então não lhe fazia falta, mas que filhos, sobrinhos e netos vêm agora lhes cobrando pelo aprendizado. Mas chegou o ano 2000 e logo em seguida como um passe de mágica chegou o ano 2001 quando de fato entramos no século XXI.
Quando eu era criança e as pessoas com mais de 50 anos já eram vistas como velhos, vi meu pai e tios se aposentarem aos 50 anos, eu pensava em 2001 como algo tão longínquo e não me imagina que ainda estaria viva para ver tudo o que ocorreria num momento tão grandioso.
Quando chegou, eu trabalhava como suporte à operação em uma companhia de telefonia celular, e o medo girava em torno dos vírus que poderiam ser ativados nesta virada de ano e ainda no que poderia ocorrer quanto aos programas de computador que até então consideravam ano com apenas duas casas: 95, 96, 97, 99... 00
Eis que por meses a fio, programadores do mundo inteiro viraram noites e noites para alterar o código de cada programa para considerar o ano como variável de quatro casas: 1995, 1996, 1997, 1998, 1999 e finalmente 2000.
Trabalhamos super atentos para garantir que nada falharia e que as centrais continuariam comutando as chamadas de boas festas e feliz ano novo que seus assinantes certamente fariam, pois tradicionalmente é a noite do ano quando mais realizamos ligações telefônicas, não é mesmo?
Bem, o ano 2000 começou e passou voando, vieram 2001, 2002 e eis que chegamos a 2010. Ano que ao menos para mim posso afirmar que foi o ano de mudanças diversas. Uma delas estava na resolução de Ano Novo: escrever um livro!
Mas sobre o que escrever? Um livro de ficção ou técnico? Criar cenários, personagens, tramas, escrevendo uma estória? Escrever sobre meus conhecimentos e vivências compartilhando com os futuros leitores? Por onde começar? Qual deveria a primeira linha a se escrever? Eram muitas as idéias e me sentia perdida em meio às indecisões, indefinições e ao mesmo tempo à ânsia de começar.
Em meio aos e-mails não autorizados que recebo diariamente veio uma dica: um workshop que me orientaria em como escrever um livro. Enviei o e-mail, marquei minha presença e fiz. Foi um sábado mágico em meio a uma turma heterogênea de conhecimentos, vivências, praticas e objetivos, ouvimos alguém que passou pelo mesmo momento e pelas mesmas dúvidas. Ele nos contou seus medos, preocupações, dúvidas e suas pesquisas. Fizemos exercícios práticos e ali, naquele momento, tive a certeza de que eu conseguiria sim escrever meu primeiro livro!
Mas as semanas se passaram e não vinha a inspiração criativa e a dúvida ainda persistia: sobre qual tema escrever? Até que o desejado e inesperado aconteceu. Dirigindo para casa pensei numa introdução. Cheguei em minha casa e escrevi: Introdução. A partir daí fluiu um texto sobre um tema por mim bastante conhecido pois faz parte da minha vida estudantil e profissional.
Foram duas páginas rapidamente redigidas. Enviei para minha sobrinha que perguntou: “quem escreveu?” E eu respondi orgulhosa: “fui eu!”
Como sou uma pessoa técnica iniciei o projeto pela formatação: escolhi o formato da página, tipo de letra e tamanho, texto para capa, agradecimentos e dedicatória. No dia seguinte parti para o conteúdo e ao completar 20 paginas, enviei para minha irmã e uma amiga lerem para sentir a reação delas. Percebi então que as havia surpreendido!
Neste ponto, as idéias já fluíam rápidas, os dedos ficaram nervosos para digitar mais e mais... e o livro crescia!
Que bom! Fui votar e voltei correndo para casa, queria escrever mais, já eram 94 páginas! Conforme escrevia, voltava, revisava, inseria imagens.
Até que me dei por satisfeita. Acabei o meu primeiro livro. 128 páginas, 116 imagens! Escolhi a editora, aguardei ansiosamente pela diagramação, capa, registro, até que num belo dia recebi em casa uma caixa com os 100 exemplares encomendados.
Meu Deus! Um sonho descongelado, materializado, quentinho saindo do forno!
Uma realidade palpável!
Hoje, um ano após o início do livro, estou aqui lhe contando como é possível superarmos adversidades, persistirmos em nossos planos, realizá-los e depois compartilhá-los como ensinamento e experiência para outra pessoa que ainda virá e passará por todos esses passos, como a água do rio que passa e gira a roda d água da vida.
Nunca é tarde para aprendermos algo novo!
Nunca é tarde para recomeçarmos!
Nunca é tarde para realizarmos nossos sonhos!
Elianete Vieira
Esta crônica foi escrita em final de 2011 e publicada no Volume II da Antologia Nossa História, Nossos Autores, lançada durante a 22ª Bienal Internacional do Livro de 2012 em São Paulo pelo Grupo Editorial Scortecci.