sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Esse cara sou eu! (Inacio Carreira)

Nada a ver com o sucesso daquele septuagenário que (ainda) faz a cabeça das senhoras de cabelos azuis... Para provar isto, ou até para demonstrar independência quanto a mitos, ritos, superstições, vestia-se de marrom: a cor da morte, diziam uns, a cor da terra, criação e absorção da vida, apontavam outros. Ele, indiferente, não dizia nada, apenas era.


Era marrento: se pensava em algo ia em frente, lutava para conseguir seus objetivos. Às vezes batia com a cabeça na parede, mas não se abatia, tentava novamente, e novamente, até conseguir. Ou tomar, de uma vez por todas, consciência de que aquele não era seu melhor caminho.


Caminho, para ele, era o Tao. Ou melhor, Tao é o caminho. Nesse caminho, um dos princípios é que “você sempre receberá o que você quer, ou o que teme. Seu subconsciente legitimamente determinará que energias, experiências e pessoas você atrairá; portanto, o único meio infalível para saber o que você quer, ou teme, é ver o que você tem. Não há vítimas, apenas estudantes das Leis Universais”, lia sempre.


Sempre pensava, também, no paradoxo de dizer-se independente de mitos, ritos e superstições mas estudar o Tao. “Filosofia”, dizia aos amigos. Aos outros, se dissessem alguma coisa, ou melhor, se ele permitisse que dissessem algo, a indiferença era a resposta. Devia, ele, satisfações para alguém? Como dizia o texto que lhe embasava a vida, ou quase, “o único meio infalível para saber o que você quer, ou teme, é ver o que você tem”. Sobre isto refletia muito.


Muito provavelmente apegara-se a essa, para ele, filosofia, quando se desencantara do mundo, das mentiras do mundo, sabendo-se pensante (“logo existo”, refletia) e participativo. Direita, esquerda ou centro? Sei lá... “Deixa a vida me levar...”, dizia, sendo contestado por várias pessoas, importantes para ele e para quem, logicamente, dava crédito. Embora, por ser marrento, muitas vezes não demonstrasse, até brigasse para manter suas convicções.


Convicções à parte, naquele dia ele acordou mais tarde, não sabia – no momento de acordar, obviamente – qual o dia da semana. Parecia-lhe domingo, mas não, domingo seria depois de amanhã, isto tinha em mente por causa do passeio agendado. Parecia-lhe domingo pela noite que tivera ontem, típica de sábado, sair para jantar... Lembrou: era sexta, claro, devia ter se dado conta disso quando refletiu que “domingo seria depois de amanhã”... E a noite de quinta-feira fora especial.


Especial como ele nunca pensou. Melhor dizendo, pensava, sim. “Seu subconsciente legitimamente determinará que energias, experiências e pessoas você atrairá”, ele sabia isto, estudava isto, procurava viver dentro dessa filosofia. Até a palavra “amor” foi dita, de forma unilateral, mas, foi. Ele aprendia a cada aproximação e agora tinha a confirmação de que a famosa Lei do Retorno valia, sim. Quantas vezes a ele foi endereçada a palavra diante da sua indiferença? Agora era a ocasião dele absorver indiferenças.


Indiferenças, diferenças, mesmices: todas facetas da vida, do teatro da vida. Embora no ano passado, esta história começou há pouco. Não sabe aonde chegará, mas não importa. O caminho é bom ou ruim, dependendo de como façamos a viagem. E a dele estava apenas começando...


Começando, mesmo, era verdade que não. Entretanto, com a sabedoria que ousava acreditar ter acumulado ao longo da existência (que viu os primeiros acordes daquele “cara”), vivia cada dia per si. Já havia por muito tempo perdido a cabeça, procurando-a nas paredes e encontrando dores. Agora, a vida que prometera a si mesmo seria diferente. Mais introspectiva, talvez, com mais espaços para reflexão, menos angústias. Aproveitar o momento seria o termo certo.


Certo ou errado, cantarolava – inadvertidamente – o refrão que às vezes enchia o ambiente e, sua paciência, a todo momento...


Inacio Carreira

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ano novo, tudo novo! E tem gente ai, com os velhos hábitos... (Patrícia Grah)

Não adianta querer “Ano novo, vida nova” se isto não for uma iniciativa que irá partir de dentro de nós.
Alguém que diz odiar o emprego em que trabalha porque detesta todo mundo, passará a detestar também os colegas de trabalho da outra empresa. Alguém que diz odiar sua vida amorosa no lugar aonde vive, continuará (se) odiando morando na Europa.Alguém que pensa em mudar de cidade para fugir dos cobradores, na cidade seguinte também terá de fugir, pois seu problema não são os cobradores!
Podemos morar aqui, no Japão ou no Hawaii que nossos problemas serão sempre “nossos problemas” se não trabalharmos nossa espiritualidade para uma mudança significativa em nossas vidas. Mudar é difícil, exige uma disciplina que nos faz ter que mudar de hábitos e opiniões e penso que ainda mais difícil do que isto é ter que ser humilde o bastante para aceitar quando nos percebemos que nós e quem estamos andando fora dos trilhos.
É por que é fácil demais criticar “a sociedade”, quando esquecemos que fazemos parte dela e que se quisermos enxergar mudanças, será mais fácil convencer as pessoas cm exemplos, do que com palavras!
Aproveito a oportunidade para compartilhar esta imagem, o qual me deixou bastante motivada à escrever este texto. Um belo pontapé para que possamos refletir sobre onde precisamos mudar para ter a tal “vida nova”.


msg


"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente, você estará fazendo o impossível."
(São Francisco de Assis)


Patty Grah

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Hoje é terça-feira (Tiago Nascimento)

Hoje é terça-feira. Uma modorrenta e insossa tarde terça-feira. Dessas que só as terças sabem ter. O que me leva a seguinte indagação: existe dia mais insosso e sonso do que a terça?


A sexta-feira (e por associação a quinta-feira) é o dia mais esperado e festejado da semana trabalhada. Do outro lado vemos a segunda-feira que tão indesejável se afigura, de modo que monopoliza toda a dor, lamúria e ódio de ser início de semana e relega à terça-feira o ocaso do sentimento zero. Nenhuma palpitação, positiva ou negativa resta à pobre terça. Ainda se fosse a singular quarta-feira que transpirando seriedade divide a semana-útil ao meio...


Mas enfim, o que são as terças-feiras? Ou melhor, o que não são as terças-feiras?
* Não são mais o início da semana.
* Não fazem parte do festivo fim desta.
* Tampouco se configuram em sua singular metade.
Conclusão óbvia? As terças-feiras são um adendo desnecessário, assim como o são o dedo mínimo e o cóccix. E esses dois, resquícios tardios de um processo evolutivo que segue sua lenta e inexorável mutação me levam a crer que a terça-feira talvez seja apenas um lapso cultural do nosso calendário. Precisamos corrigir esse lapso! Precisamos modernizar o calendário!


Proponho aqui minha campanha: vamos abolir a terça-feira...

sábado, 19 de janeiro de 2013

Mulher Ideal (Vana Comissoli)

mulher ideal

A noite estava vazia e ainda assim eu caminhava entre os espasmos do sono. Procurava por que a insônia da busca não me permitia dormir. Atravessava as madrugadas implorando ao cansaço que me levasse embora.

Ela também caminhava. Somos bobos, quando alguém faz alguma coisa que fazemos, imaginamos que o objetivo é o mesmo, que buscamos as mesmas respostas. Ledo engano!Mas só fiquei sabendo disso depois. Acreditei que era um sinal dos deuses e que seria o encontro da minha vida.

Exatamente igual aos meus sonhos secretos e inconfessáveis, ela apareceria do nada, despida de todo conformismo e aceitação, mas me sujeitando um pouco a um aparente distanciamento de modo que eu a quisesse além do perturbador e definitivo primeiro olhar.

Paramos no mesmo sinal fechado e a noite vazia permitiu que eu sentisse seu cheiro que passou a ser todos os cheiros para mim e grudou na minha pele como tatuagem. Deixei que começasse a travessia à minha frente para poder reconhecer suas pernas que se não eram perfeitas, eu não vi. O balanço de seus quadris que lembravam uma cobra deslizando na água imersa em seu habitat, mentirosamente desatenda.

Não sei se choveu ou eu me acordei inteiramente suado quando o dia atrapalhou tudo e dormiu a noite em mim.

Não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser caminhar pelas ruas desertas, com o vento uivando gemidos de prazer através de mim enquanto a buscava em outra esquina e esperando outro sinal vermelho.

Foram longos dias arrastados, sonhando, imaginando até meu mundo se esvaziar ainda mais do que estava, recém-saído de um casamento estéril e sem colorido algum. Essa era a mulher que me buscava enquanto eu a buscava também, sem sabermos que as vias estavam prestes a se cruzar para todo o sempre, costurava em meus pensamentos.

Afinal ela disse que não podia mais lutar contra o destino e que havia lido nas cartas, nos oráculos, nas vias biliares que deste destino não poderíamos fugir. Minha vida se encheu de todos os saborosos e jamais antes provados desatinos da paixão.

Não havia canto, ou esconderijo que não tivéssemos usado, nem posições que não tivéssemos experimentado, para me convencer definitivamente que estaríamos indissoluvelmente ligados para sempre.

Eu queria a paixão, a loucura da espera e o telefone sugando minha fala e audição sem parar. Descobria que, antes dela, eu não sabia exatamente o que desejava. Entreguei meu corpo, minha mente e todo meu ser, era minha jura de casamento fiel até para além da morte.

Ela correspondia em abraços escorregadios, em risadas de jogar a cabeça para trás, expondo o pescoço que me fazia desejar ser vampiro e transformá-la em escrava minha. Sanar a despudorada solidão, os gemidos noturnos e sombrios que haviam habitado sob meu teto.

Planos e planos foram tecidos pelas mãos dadas, pelos beijos que se enfiavam em minha boca sempre sedenta, e podia penetra-la me escondendo do mundo e de mim mesmo, mas jamais dela.

Poderia até mesmo compor versos que falassem as bobagens do amor e do vinho tinto sob o corpo batendo no copo e se derramando, quando a tive por sobre os pratos de comida cheia dos meus apetites infindáveis. Talvez se devesse ao fato de há muito tempo ter deixado de ser jovem e ter decidido que poderia sonhar a vinda da mulher ideal, caminhando lenta e suavemente para mim, seu único porto de chegada.

Foram duas semanas de plenitude e realização. Eu era eu e ela, isso me dava uma nova dimensão de mim mesmo. A unidade da junção secreta e prometida, afinal.

Quando ela se ausentava eu cheirava suas roupas e me embriagava de visões de nossos corpos rolando na grama alta e desajeitada, ou sobre o piso frio e úmido da cozinha. Corria ao telefone, que se tornou fiel escudeiro e dizia que se apressasse por que estava sufocando sem seu hálito para respirar. Ela apenas sorria e despejava mais sedução que eu bebia avidamente, sedento de insanidades.

Duas semanas...

Assim, como quem acha tudo muito natural, escudada em explicações metafísicas e outras muito racionais, ela virou as costas batendo a porta, enquanto eu urrava a minha dor seiscentas mil vezes aumentada. Ficou apenas um buraco parado e grudado na entrada que se transformara em saída.

Deixou para trás seus pedaços em panos coloridos e cremes com a maciez de sua pele.Acreditei que eram pedrinhas demarcadoras do caminho de mim e que voltaria quando a noite novamente a levasse a procurar.

Voltei a caminhar pelas madrugadas sem som e de tacões duros. Ali a tinha encontrado e voltaria a encontrar. Realmente aconteceu. De longe percebi seu perfume de fêmea e o meneio dos quadris de serpente. Corri, na certa estaria esperando abrir o sinal vermelho para atravessar a rua. Estava.Ao seu lado, com olhos desvairados de paixão havia um homem que jamais vira e que, com certeza não era eu. Saiu de braço com ele, de vez em quando se pendurando em seu pescoço e eu podia quase sentir o gosto de seu hálito fora do meu.

Ao meio dia, com o sol a pino me torrando os miolos quase fritos por pensamentos circulares, compreendi que definitivamente tinha encontrado a minha mulher ideal, por que sofrer e não ter era tudo que eu realmente desejava.

Contei os dias e os intermináveis minutos do meu desespero, fingindo que não a buscava e que não passava de uma vadia qualquer que caçava macho escondida na noite. O louco era eu idealizando coisas inverossímeis dentro de um corpo de mulher.

Ela entrou como se nunca tivesse saído e jurei que não a abraçaria e nem comeria de sua boca. Disse algumas grandes e figurativas verdades sobre os humores oscilantes dela e a xinguei de mil impropérios enquanto arrancava sua blusa e mergulhava em seu ventre famélico.

Mais duas semanas e a porta foi aperta para o recorte negro de seu corpo indo embora. Desta vez para sempre, jurei amaldiçoando meus sonhos realizados. Procurei todos os castigos e focos de tortura possíveis para me certificar que descobrira a verdade: eu não a amava, apenas buscava alguém que satisfizesse minha interminável vontade de sofrer e de me sentir miserável.

Uma mulher que não caminhasse como cobra, não cheirasse como fêmea de olhos fugidios e vacilantes, que ficasse ao meu lado todos os dias na comunhão rotineira do pão sobre a mesa jamais seria minha mulher ideal.

Aprendi que o ideal se toca com a ponta dos dedos e deixa de ser, quando se enconcha nas mãos. O ideal é aquilo que sempre foge, sempre corre e volta quando começamos a esquecer de sua face. Mas comigo não. Eu seria muito melhor e maior do que um sonho nascido na adolescência,que não pudera tocar nem com a ponta dos dedos no tempo certo de fazê-lo. Eu amadurecera neste cadinho de mulher. Eu estava curado.

Contei os dias e os miseráveis minutos para saber quanto faltaria para as próximas duas semanas.

Vana Comissoli

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Crimes em nome da fé (Fernando Bastos)

Escrevo em jornais e blogs literários sobre vários assuntos, mas o que se destaca é Religião. Também publiquei um livro, chamado “Teofania”, que mostra as origens da crença no sobrenatural e seu desenvolvimento até os dias atuais. Desde então, tenho recebido muitas críticas favoráveis e, como não podia deixa de ser, algumas não muito educadas e alertas de que meu destino será arder no fogo do inferno.


Nunca procuro ofender a fé de ninguém; apoio que cada um creia em seu Deus da forma que lhe convém, contanto que não use sua fé para fins nocivos. Apenas questiono certas verdades e aponto para os problemas causados pela religião, que não são poucos.


O que me levou a escrever sobre religião foi a constatação de que, se por um lado ela traz benefícios – prega a solidariedade, traz consolo, esperança por dias melhores, etc. – por outro tem causado no curso dos séculos, dor, morte e sofrimento. O problema é que os dois livros religiosos mais importantes, Bíblia e Alcorão, embora contenham mensagens de amor e paz, também legitimam guerras, assassinatos e violência contra os que não se submetem à autoridade divina. Esses livros, nas mãos erradas, são pura dinamite.


Se as religiões somente ensinassem o amor, a caridade e o perdão, ninguém estaria escrevendo contra elas. Mas elas também ensinam a odiar e a matar. E é por isso que de umas décadas para cá, surgiram muitos autores alertando para os perigos da fé irracional e cega.


As maiores vítimas da doutrina religiosa são em primeiro lugar...


... As crianças. O menino judeu é submetido aos oito dias de idade à circuncisão, que é a retirada do prepúcio. Muitas vezes sem anestesia. Os médicos condenam essa prática, recomendada em raros casos. Em alguns países islâmicos, meninas a partir dos doze anos sofrem com a excisão dos órgãos genitais. Os lábios maiores são costurados para garantir a virgindade até o casamento ou têm o clitóris cortado, para que elas não venham a sentir prazer. O Alcorão não autoriza essa prática, mas pede que a mulher fique virgem até o casamento. Os religiosos se aproveitaram dessa recomendação, e inseriram esse costume tribal na sua cultura, pois viram nele um ótimo apoio para impedir as moças de terem relações antes de casar.


Segundo, as mulheres. Na cultura judaico-cristã, o controle de natalidade é proibido. Apenas o método da tabelinha é aprovado. Casais de classes mais humildes geram mais filhos do que poderiam sustentar, não porque desconhecem os métodos contraceptivos. Muitas vezes não têm acesso a eles, pois em muitas cidades, sobretudo do interior, os prefeitos evitam problemas com os sacerdotes e não distribuem para o povo as camisinhas e as pílulas. No Islã também é proibido o uso de contraceptivos. A saúde da mulher e seu desejo de ter menos filhos não são respeitados. Nessa cultura, em muitos países, ela não pode casar com quem ama, mas com o homem que os pais escolherem. Não pode sair à rua sem a presença de uma figura masculina ao lado, nem que seja um menino de cinco anos. Às vezes, é proibida de trabalhar e estudar, pois sua missão é casar bem cedo e gerar o maior número de filhos possíveis, de preferência meninos. O marido pode bater na esposa, com aval do Alcorão. E ele pode ter até quatro mulheres. As notícias mostram que elas são castigadas por andar sem o véu, ou mortas quando acusadas de adultério.


Terceiro, os homossexuais. Por causa de uma passagem bíblica, que pede a morte de homem que dormir com outro homem como se fosse mulher, a Igreja até hoje causa dor e constrangimento nas pessoas que seguem essa orientação sexual. Esse sentimento homofóbico acaba por ser internalizado na maioria das pessoas, mesmo as que não conhecem Levítico 20,13. Por conta disso, a cada dois dias no Brasil, um homossexual é morto por motivos de preconceito.


Cabem na lista dessas vítimas ainda os cientistas, que são prejudicados em suas pesquisas com células-tronco embrionárias; ateus e agnósticos, que são vistos com desconfiança pela falta de crença; os casais católicos que não têm permissão para se divorciarem; os filhos mortos porque os pais não permitiram a transfusão de sangue; os rapazes - futuros homens-bomba-, que vão tirar a vida de si mesmo e de inocentes, pois creem que serão recebidos por 72 virgens no céu; os dalit na Índia; etc. e etc.


As pessoas que defendem esses pensamentos e ações, dizem que tudo foi aprovado por Deus num livro chamado “sagrado”. Não foi. Deus nunca orientou escribas e sacerdotes do passado a escrever livros. Os maiores filósofos, arqueólogos, historiadores e cientistas desde o século 18, têm afirmado e provado que tais livros são produtos da mentalidade do povo que os escreveram, com suas ideologias, superstições e crendices. Usaram o nome de Deus para dar maior credibilidade àquelas ideias.


Essa notícia deve ser divulgada à exaustão, para que as pessoas parem de humilhar os outros, fazer guerras, causar mortes e sofrimento em nome de Deus.  Quanto mais pessoas conhecerem a história das religiões, como e por que foram criadas, mais aptas estarão para definir elas mesmas seu caminho, e assim, preparar um mundo melhor para se viver.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O ano novo de Dorothy (Sônia Pillon)

   Dorothy decidiu pegar a estrada antes do sol raiar. Nada a impediria. Não hoje. Não agora. A maior parte da família e dos amigos foi trabalhar na cidade. Tinha que aproveitar que a tia estava dormindo e o galo ainda não tinha cantado... O ano estava quase terminando e o tempo se esgotando!


   Começou a jogar algumas roupas e calçados dentro do mochilão. Não esqueceu do protetor solar e do repelente de insetos, nem de levar as economias guardadas debaixo do colchão... Riu. O esconderijo era tão óbvio que dificilmente um ladrão procuraria ali...


   Pouco antes de sair e fechar a porta (com todo o cuidado, para não acordar a tia!), pegou o porta-retrato da sala, daquele Natal em que todos estavam reunidos, deixou um bilhete em cima da mesa de jantar e se foi. Ainda deu uma última olhada para a casa, o jardim.... Sentiu um aperto no peito e os olhos marejarem quando lembrou das duas décadas que passou ali, das boas lembranças e até das ruins, que a alquimia da vida transformou em aprendizado... Mas sua missão tinha acabado e ela precisava seguir em frente...


   Começou a caminhar pela Estrada Geral, onde não tinha uma viva alma sequer! Ouvia nitidamente as suas botinas de trekking pisando o chão batido, via os bois e vacas que dormiam, os cavalos... Um vira-lata manco cruzou na sua frente, com o olhar suplicante para que não o enxotasse, já acostumado com as pedradas da molecada, o pobre...


   Enquanto caminhava resolutamente pela estradinha interiorana, foi passando pelas terras dos vizinhos e se despediu mentalmente das galinhas, dos patos, dos marrecos, dos porcos, dos gatos... O piar da coruja a assusta por um momento, mas ela segue, rumo ao desconhecido. – Não posso fraquejar agora, de jeito nenhum!, disse para si mesma.


   Finalmente, depois de uma hora caminhando, alcançou a estação do trem. Apressou o passo até o guichê. Olhou o quadro para decidir qual destino escolheria.


– Bom dia! Quero uma passagem para Esperança!


– O trem vai partir agora. Se correr, você ainda pode pegar!”, alerta o bilheteiro. Ela corre e consegue embarcar no último instante. Iria chegar à noite, a tempo de ver os festejos da chegada de 2013! - Que venham os novos desafios!, murmurou Dorothy, enquanto fechava lentamente os olhos e se preparava para cochilar. A jornada até ali tinha sido árdua. Precisava recuperar as forças para encarar o novo ano...


Sônia Pillon


 botinas

domingo, 6 de janeiro de 2013

Mundo em equilíbrio (Marcelo Lamas)

Naquela época Jaraguá do Sul era uma cidade bem menor e as opções de educação eram restritas. Eu estudava engenharia elétrica e para isso, tinha que ir à noite para Blumenau.


A nossa turma foi a pioneira em utilizar uma van que nos levava direto ao campus tecnológico e tínhamos um super-motorista, o “Percebes”, que conhecia uns atalhos e que conseguia nos entregar na hora da prova, mesmo quando chovia.


Para participar da na nossa van o cara tinha que gostar de futebol, pois os nossos treinos iniciavam às 23h30min nas quintas. Também tinha que gostar de música, pois montamos um grupo: Os sobreviventes.


Cada um que graduava-se formava indicava um amigo que passava pelo crivo da galera.


Mas o ambiente na faculdade era inóspito. Havia pouquíssimas mulheres, o que nos fazia enxergá-las como princesas, sem exceção. Após um tempo, a Universidade resolveu transferir outros cursos, com maioria feminina. E aí a coisa ficou meio a meio.


Junto com o curso de moda veio uma loira jaraguaense. As antigas altezas torciam os narizes para ela. Mas vez por outra elogiavam a passada, o cabelo, as dimensões. Com cara de nojo, mas elogiavam. E a guria era bonita indo e vindo. As outras se referiam à loira como Suzana Werner, que na época namorava o Ronaldo Fenômeno: “Aquela Suzana Werner tá toda de azul hoje, vocês viram?”.


Eu conhecia a “Suzana” de vista, lá do bairro. Numa noite, no intervalo, ela me chamou:


- É você que organiza a van da engenharia, não é?


Dei uma engasgada, e respondi:


- Sou eu mesmo.


- Eu quero ir com vocês. Já liguei pra empresa, me disseram que tem alguém saindo. Não aguento mais aquele ônibus.


Bem, eu fiquei sem acreditar na hora. Mas enrolei, falei que ia confirmar se já não tinha alguém acertado e que conversava com ela depois. Na verdade eu tinha medo da reação de todos nós, ogros, com uma modelo na convivência diária. Ela tinha sido miss, com participação em concursos nacionais como o Garota de Ipanema.


Comentei com os meus colegas. Ameaçaram me matar caso ela tivesse desistido. Mandaram-me fechar um contrato com ela. Prometeram que iriam controlar as brigas no campeonato de “truco-móvel” e os palavrões, entre outros.


Passamos a ter uma rainha, além de futebol, bebidas e música ao vivo. A chamávamos de rainha, mais isso nunca lhe subiu à cabeça.


Depois a regra mudou. Cada vez que saia um engenheiro, entrava uma beldade. O nosso mundinho em equilíbrio ficou muito melhor.


Marcelo Lamas
marcelolamas@globo.com


van_escolar

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

E a primeira semana do ano chega ao fim! (Elianete Vieira)

texto


Podemos estudar sobre culturas diferentes, nos aprofundar na religião que acreditamos, podemos ser lógicos e racionais, mas existem certos detalhes culturais que persistem com o passar das décadas e estão sempre presentes em nossas vidas.
Um novo ano se inicia e com ele as crenças, as dúvidas, as esperanças e, por maior que seja a religiosidade de cada um, o misticismo está presente em pequenos detalhes que, mesmo por brincadeira, muitos de nós seguimos como ritual de Ano Novo: como usar o branco (paz), um item amarelo (dinheiro), o vermelho (paixão) e por que não, o rosa para o amor.
Comer lentilhas, bolinhos de arroz, sobremesas brancas, evitar aves na ceia, pular sete ondas, guardar sementes de sete uvas ou três tâmaras na carteira, banho perfumado para o amor, flores brancas, espelho e perfumes para Iemanjá, etc. são formas de acreditarmos que algo possa ser feito em busca do amor, do novo trabalho, de mais dinheiro, da tão desejada paz que todos queremos para o mundo inteiro.
Não sei se os países que necessitam mais dessa paz possuem essa mesma crença, esse misticismo do branco e da pomba branca que representa Jesus e a paz. Mas nós brasileiros pensamos em todos quando comemoramos usando o branco.
Hoje, é primeira sexta-feira do ano e no Rio de Janeiro, muitos fiéis buscam pela tradicional bênção de São Sebastião, padroeiro da cidade, na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca. Pedem proteção para o ano inteiro numa tradição que começou em meados do século XIX, quando a igreja ainda ficava no Morro do Castelo (demolido em 1922).
É ainda o último dia útil de uma semana curta. Período de folga para aqueles que puderam emendar e curtir o final do feriado prolongando em pequenas férias, para viajar e curtir a família em algum lugar paradisíaco ou apenas tranquilo. No dia 1º e no dia 2, noticias de estradas lotadas mostraram que muitos retornaram aos seus lares enfrentando horas de cansaço, fome, crianças chorando, chuva em SP ou sol quente no Rio, para então retornarem ao trabalho e estão desejosos que esta 6ª feira termine rapidamente, agora sem transito na volta para casa, e curtir mais um final de semana em ritmo de férias.
Crianças em férias escolares é alegria na casa. Famílias aproveitando para curtir os baixinhos ao máximo. Por outro lado, cidades vazias com menos transito, rodizio suspenso na cidade paulista, facilitam a vida daqueles que deixaram as férias para outro período do ano, como eu!
E assim, um novo ano se inicia, com simpatias e orações para dias melhores. Esperanças que algo diferente ocorrerá esse ano. Sonhos que se realizarão neste 2013 que, de azar não tem nada, pois o jeitinho brasileiro fará destes 361 dias que faltam para o ano acabar, o ano de maior sorte de todos anteriores, com muitas realizações superando as tristezas e doenças que enfrentaremos, com saldo positivo de mais um ano muito bem vivido!
Um 2013 abençoado para todos!
Elianete

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Os números de 2012

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2012 do nosso blog.



Aqui está um resumo:
600 pessoas chegaram ao topo do Monte Everest em 2012. Este blog tem cerca de 4.900 visualizações em 2012. Se cada pessoa que chegou ao topo do Monte Everest visitasse este blog, levaria 8 anos para ter este tanto de visitação.

Clique aqui para ver o relatório completo