sábado, 24 de agosto de 2013

Perdão - a porta que leva a uma vida de verdade (Patrícia Grah)

No decorrer de nossas vidas, muitas vezes nos deparamos com momentos em que nem mesmo nós somos capazes de auto compreensão. Situações fogem do nosso controle e atitudes alheias nos tiram o norte. É ai então que devemos ter muita cautela, afinal, ser inconsequente poderá trazer arrependimentos posteriores.


Hoje, olho pra trás e, não costumo me arrepender do que fiz, mas vejo que muita coisa poderia ter sido trabalhada de outra forma, aonde a menos prejudicada seria eu mesma. Tudo porque o ódio, a ira, o rancor e o ressentimento jamais causaram mal algum à quem eu o senti, e sim, somente à mim mesma.

Passei por situações bastante delicadas, fui muito prejudicada e uma coisa foi levando à outra até usurparem tudo de mim: o amor próprio, a auto estima, a verdade - nem eu mesma soube mais quem eu era - e foi assim que dei meu sangue, até a última gota, descendo até o fundo do poço por conta da maldade alheia. Era óbvio que isto me afetaria! Foi assim que desperdicei muito tempo da minha vida obcecada pelo ódio, pela ira e pelo desprezo. Ser assim fez de mim uma pessoa amarga demais, mas eu não me culpo! Foi preciso passar por aquilo tudo para compreender que jamais me levaria à nada!

"Perdão". Até hoje eu luto contra ele! Há momentos em que o sinto como meu melhor amigo, aonde trocamos afetos e confidências, mas basta um descuido e "tchau"! Já estou novamente remoendo as mágoas, falando coisas que não penso, pensando coisas que não sinto, mas é coisa de momento.

Porém, apesar de tudo, sinto um imenso orgulho de mim! Em saber que consigo ser humilde o bastante para aceitar meu passado e o mal que existiu dentro dele e saber que fui tão forte, mas tão forte, que nem mesmo sendo levada ao ápice da falta de consideração eu pude revidar.

O amor vence o ódio, o bem vence o mal...

Deve ser por isto que hoje quem me prejudicou continua levando uma vida de mentira e eu, vivendo uma vida de verdade!

domingo, 18 de agosto de 2013

O sacrifício de Isaac (Fernando Bastos)

Quando completara cem anos, Abraão teve um filho e o chamou de Isaac. Sara, mulher de Abraão, também não era nenhuma mocinha quando engravidou. Foi após a visita de três anjos que a anciã de 91 anos fora fecundada com a semente do marido.
O menino já era um adolescente quando apareceu Javé diante de Abraão. O servo de Deus, ouvindo seu chamado, disse, Eis-me aqui, Senhor.
O Todo Poderoso ordenou, Toma seu filho, seu único filho a quem tanto ama, Isaac, e vai à terra de Moriá, onde você o oferecerá em holocausto sobre um dos montes que eu o indicar.
O diálogo que precede o ritual de execução é comovente:
Meu pai, disse o jovem Isaac.
Eis-me aqui, meu filho, respondeu Abraão, com a voz embargada, mal segurando uma lágrima. Dali a poucos minutos, ele teria que degolar o filho com uma faca, seguindo ordens de seu Deus.
Aqui estão o fogo e a lenha, mas onde se acha o cordeiro para o holocausto, perguntou a inocente criança. E o velho respondeu, Deus providenciará o cordeiro, meu filho!
Quando chegaram ao local designado para o sacrifício, o rapaz foi amarrado sobre o altar improvisado sobre uma pedra. De seus olhos caíam lagrimas doloridas, queimando-lhe a tez morena da face, mas não disse nada. Não entendia porque Deus necessitava de seu sangue para ter certeza de que o pai lhe era fiel. Afinal, crescera ouvindo que o Deus de seu povo conhecia o pensamento dos homens, de modo que provavelmente saberia se o pai o temia ou não.
No exato instante em que Abraão ia degolar o filho com a faca, apareceu um anjo do Senhor, que gritou, Abraão! Abraão! Não lhe faça mal algum. Agora sei que verdadeiramente teme a Deus, pois não me recusou seu único filho. Em seguida, o velho centenário guardou aliviado a faca, e viu que havia um cordeiro preso pelos chifres em um arbusto. Libertou o filho das amarras, abraçou-o com ternura, chorando como uma criança, e ofereceu o animal em seu lugar. Deus Javé dispensara no último segundo o sangue de um inocente. Ali perto, duas figuras sorrateiras, invisíveis aos olhos humanos, confabulavam a respeito do esdrúxulo episódio.
Presumo que você não pensou nos traumas da criança, disse o Diabo. O Senhor, não muito dado a problemas psicológicos, já que não conhecia nada de Freud e psicanálise, perguntou, Traumas? É, disse Satã, traumas, as consequências para o psiquismo de Isaac. Coloca-se no lugar dele. Ver o pai com uma faca prestes a cortar-lhe o pescoço como se fosse uma galinha, não creio que seja muito animador para o crescimento de uma criança. Se queria testar o amor de Abraão por você, podia escolher algo que não envolvesse um inocente. Podia muito bem pedir que Abraão cortasse o próprio pescoço, livrando assim o pobre Isaac de terrível constrangimento. Mas tem outra coisa que me incomoda. O quê?, perguntou Deus. O Diabo respondeu, Não entendo essa excessiva mania de querer ser adorado o tempo todo. Seria algum problema de infância? Não, não pode ser; você não teve infância. Você devia ir a um psiquiatra, não, não, não, esquece; eles vão demorar a aparecer. Fico imaginando que sua insegurança talvez resida no fato de que você mesmo reconhece não ser muito crível, de modo que fica aí a toda hora querendo preces e sacrifícios.
Eu os criei, disse o Senhor, esbravejando, é justo ser honrado de vez em quando. O Diabo levantou uma sobrancelha, enquanto mordia uma maçã, e disse, Mesmo que for com o sangue de uma criança? Ora, agindo desse modo, você se equipara aos deuses cananeus, que pedem aos pais o sacrifício de bebês e meninas virgens. Cuidado, amigo, no futuro corre o risco de ter sua identidade questionada por pessoas inteligentes, que poderão colocá-lo ao lado de outros deuses inventados pelo homem...
Não vou admitir isso, crispou-se o Senhor, contorcendo os músculos da face, Vou exigir que todos creiam, e me adorem. Quem se recusar, será trespassado pelas lanças de meu exército, ou empalado vivo. Se não funcionar, inventarei outra forma ainda pior de persuasão: uma cadeia eterna de fogo e suplícios para os incréus e aqueles que não me adoram.
O diabo, dando a última mordida na maçã, suspirou e pensou, Típica personalidade de um tirano; mexi com seu ego.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Som da Palavra (Thiago Daniel)

Ta na boca
do verso
do vento
Ta no ouvido
da prosa
do mar

Ta descansando
ali no seu cantinho
de olhos abertos
Pra melhor deitar com as borboletas

Ta na boca
da língua que escorre
Saliva-remédio
Ta no sangue
lambendo
dentro das veias

Ta doendo
abaixo dos ombros
de tanto ruflar o maxilar
e partir sem peso nas orelhas

Ta na mão
que canta de aplausos
o grilo verde-hoje
E escuta na textura do ar
uma harpa assoviando beijos
Para as palavras

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Arrumadinhas (Marcelo Lamas)

Lançamento do novo livro de crônicas do escritor Marcelo Lamas:

Quarta-feira.
Horário: 19:00
Local: Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa.

[caption id="attachment_1190" align="aligncenter" width="221"]By Fernando Bastos By Fernando Bastos[/caption]

E aqui o link para a crônica-título: http://cooperativadeletras.wordpress.com/2012/11/06/arrumadinhas-marcelo-lamas/

domingo, 4 de agosto de 2013

Crianças nascem já atualizadas com a tecnologia (Elianete Vieira)

1990 - Mariana procura pelo controle remoto da TV.
Sua mãe e tia estão descobrindo o uso do computador depois de estarem formadas e já são profissionais. Não nasceram com mouse nas mãos e estranham o "objeto".
Mas a menina de 2 anos encara um controle remoto para TV e outro para o vídeo cassete com naturalidade. As mãozinhas mal conseguem segurar o peso dos objetos, mas ela se vira tranquilamente.
A tia “dinda”, precavida, montou um similar colorido com Lego.
Mariana vai até o videocassete e empurra a fita previamente colocada. Em seguida, sobe no sofá com dificuldade pois é alto para ela, pega seu "controle" colorido e aperta um botão apontando para a TV para assistir seu desenho preferido.
A tia disfarça e pressiona um botão no controle verdadeiro. A pequena acredita que está controlando a TV. E ali fica assistindo a mesma história por horas, pois ao terminar grita “maix, maix” ou ainda “de novo, de novo” como aprendeu com o Baby Sauro.


2013 - Dani nasceu num mundo tecnológico, onde vidros "sentem" o toque de um dedo e executam uma ação. Onde celulares fazem fotos, tocam música, executam jogos e outros aplicativos, são usados como TV e até fazem ligações telefônicas.
A tia bate uma foto da menina enquanto brinca com a irmã Bia, que ainda sorrindo diz "qué vê, tia" e eleva as mãozinhas querendo pegar a câmera. A tia mostra fotos para ela que, com toda naturalidade e inocência dos 2 anos, fecha a mãozinha deixando o dedinho apontador em risque e o leva à câmera deslizando-o de um lado para outro. 
“Mas que esperta! A danadinha já sabe usar tablet e pensa que todas telas são touch” pensa a tia já entendendo o que ela pretende. 
Discretamente pressiona o botão que permite avançar ou retroceder fotos observando a satisfação da pequena sabida.
E assim, as três, veem as fotos da Festa Junina. Esta sim, tradicional como as festas de antigamente. 
E o dedinho? Continua deslizando na tela da câmera, para lá e para cá...


Como será daqui a 20 anos, quando essa baixinha estiver com sua filha revendo fotos ou assistindo filme, ou ainda, fazendo alguma outra coisa mais moderna nos tempos Jetsons?


Elianete Vieira