segunda-feira, 24 de junho de 2013

Um choque de realidade (Patrícia Grah)



Um dia desses, sai à trabalho um tanto apressada rumo ao banco. Para percorrer este trajeto sempre passo pela escola onde estudei quando criança, desde a pré escola. Neste dia, em especial, fui impedida de passar pelas crianças que atravessavam a rua, todas enfileiradas e de mãos dadas, exatamente como era feito no meu tempo.

Lembro como se fosse ontem, dos carros parados, alguns angustiados por prosseguir, outros olhando e sorrindo, achando "bonitinho". Esqueci minha pressa e por alguns minutos voltei no tempo. Sorri.

Comecei a refletir sobre a enorme simultaneidade relacionando aquelas crianças à mim, quando, naquele tempo, o país encontrava-se sob um momento histórico: o Impeachment do presidente Collor. Lembro que a professora deu uma aula explicando o que isto significava, afinal ouvíamos falar disso na TV mas não conseguíamos compreender ao certo o que significava. Eu entendi, mas nem me importei. Não poderia fazer nada! Eu não entendia nada! Eu era somente a criança que precisava de direcionamento até pra atravessar a rua! Os adultos é quem deveriam se importar com isto! Meu futuro estava nas mãos deles.

Agora, novamente nosso país encontra-se em um momento delicado e de muitas transformações, boas, por sinal!

Mas e eu? Mas e eu?

Pois é...

Pois é.

O tempo passou e tudo mudou. Não posso não mais me importar.


Agora sou eu a motorista do carro.

Um comentário:

  1. Acredito que a autora, comparando o momento dos mascarados, atual, com os caras-pintadas de ontem, perdeu-se - assim como todos nós, à exceção do rosto por trás da máscara, que orquestrou essa coisa toda e colocou na cabeça de cada um a certeza de que o gigante acordou...
    Se fosse gigante, e se acordasse, precisaria de direcionamentos escusos?
    Vamos ficar esperando a fila de crianças passar?
    Onde é que queremos chegar, mesmo?

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