Céu azul. Nem parecia que um dilúvio havia despencado na noite anterior. O honorável senhor Silva saiu de casa com um guarda-chuva debaixo do braço “nunca se sabe”, dizia ele. Mas o dia estava lindo. Zero por cento de possibilidade de chuva.
Ainda em Ipanema o senhor Silva já despertava olhares curiosos. Divertidos e curiosos. Curiosos e sarcásticos. E quanto mais perto da orla chegava, mais freqüentes se tornavam os olhares. Um homenzinho estranho portando um imenso guarda-chuva. Imune aos olhares o senhor Silva continuava intrépido em sua matutina caminhada.
Mas ninguém aceita por muito tempo ser o ridículo. Por certo já arrependido de estar em semelhante situação, o senhor Silva começou a torcer os bigodes e a pensar num jeito de se livrar do incômodo artefato. Lixeiras enormes iam sendo deixadas pra trás, em qualquer uma delas seu guarda-chuva poderia descansarem paz. Maso senhor Silva era um homenzinho metódico. Não faria nada que o pudesse ainda mais ridicularizá-lo. O que pensariam os donos dos olhares divertidos ao vê-lo depositar o imenso e negro guarda-chuva no lixo? Não. Ele ia pensar em outra coisa.
Continuou a sua jornada. Já nem lembrava o que lhe havia tirado de casa, que destino teria ao pisar a rua. Apenas seguia a orla, ora devagar, ora apressado. Pensava em algo… Pensava em algo…
De súbito uma brusca guinada. Seus pés pisam a areia e o guarda-chuva negro voa de encontro ao mar. Ao primeiro que encontrou depois confidenciou “é uma mandinga que mãe-preta ensinou, talvez agora a tempestade não volte mais”.
Tiago Nascimento
Texto publicado em 29/04/2008 no extinto Globoonliners.
Consciência ecológica zero hein sr. Silva?
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