segunda-feira, 11 de abril de 2011

Emoções Baratas (Sônia Pillon)

Era madrugada de sábado. O beco escuro à beira do cais trazia sons abafados, gemidos, risos e gargalhadas. O bar tipo "pé-sujo", no final da rua, era mal-iluminado, tinha o chão de cimento rachado e esburacado em muitos pontos. Encardido e mal-cheiroso, como de resto todo o ambiente, era tomado pela fumaça de cigarro. Chegava a arder nos olhos. Por trás do balcão, o dono sorria satisfeito, enquanto servia a terceira dose de pinga para um corpulento estivador, que parecia conhecer de longa data.

O boteco estava com quase todas as mesas lotadas, de homens que buscavam na bebida e na boemia a solução para a própria solidão. Em meio às mesas, circulava com ares maliciosos por entre os clientes, Claudete. Com cerca de 35 anos, tem estatura mediana, ancas largas, seios fartos e uma cabeleira negra revolta. Sentada no colo de seu cliente preferido, um marinheiro baixo e gordo que corria uma das mãos pelo meio de suas coxas, enquanto a outra mão percorria os seios, Claudete jogava sensualmente a cabeça para trás, numa sonora gargalhada.

Decidida, ela puxa o marinheiro pela mão e o leva até o infecto quarto dos fundos. Sem querer esperar mais, o homem a empurra contra a parede e começa a arrancar o vestido vermelho de Claudete, enquanto crava os dentes no seu pescoço. Soltando um gemido, ela esquece a vida miserável
naquele pulgueiro imundo. Amanhã ela terá de rodar a bolsinha de novo, pelas ruelas que circundam o porto. Mas agora, "a noite é uma criança", pensa ela, enquanto um arrepio de prazer percorre seu corpo.

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