segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aproveitando-se do caos (Patrícia Grah)

Inicio esta crônica filosófica ressaltando os últimos acontecimentos em nossa região. Enchentes, alagamentos, pessoas desabrigadas de um lado, comerciantes gananciosos e aproveitadores de outro.


 Penso neste fato e a primeira coisa que me vêm à mente é a palavra HUMANO. Afinal, o que é ser humano?


Segundo o dicionário, - O termo humano utiliza-se também como adjetivo com o significado de bondoso ou generoso, compreensivo ou tolerante.” (fonte: www.significados.com.br)


Mas, bem honestamente, é isto que estamos sendo? Será que em determinados momentos não estamos nos comportando como os animais, que brigam por alimento, pelo par, pelo espaço, tudo isto agindo de forma bruta e irracional?


Só pra refletir.


Fui informada de que em uma cidade vizinha atingida pela água, comerciantes estão cobrando R$ 24,00 por uma bambona de água – que normalmente não passa dos R$ 7,00. Estão vendendo pão francês pela “mixaria” de R$ 22,00 kg. E por ai vai, nem quero saber a exploração na alimentação básica.


Penso eu, que este seria o momento e a oportunidade de estarmos nos ajudando, de termos compaixão pelo próximo e não medir esforços – físicos ou financeiros – para contribuir com quem não teve muita sorte, mas não, ao invés disto nos deparamos com situações como esta, onde quem já perdeu o que tinha, se obriga a pagar preço de ouro por pão e água, o que há de mais essencial na alimentação e vida do ser HUMANO.


Queria terminar com uma frase mais bonita, mas não encontrei palavras, só me resta mesmo é indignação.


“Fazer o bem sem olhar a quem”, algo que muitos dizem, mas poucos vivem!


 


Patricia Grah, 24 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Por que ter Filhos? (Fernando Bastos)

Dou minha vida pelos meus filhos, não consigo imaginar minha vida sem eles. Filhos dão trabalho, mas os momentos de prazer ao lado deles superam qualquer dificuldade. Sei que estou repetindo frases clichês, mas que representam uma verdade para muitos pais.


Acredito que você também, que já é mãe ou pai, pensa igual a mim, que filhos são tudo isso que acabei de mencionar, mas será que somos a maioria? Será que filhos estão trazendo felicidade para a maioria dos pais? E estes, estão correspondendo ao que um filho necessita?


Um filho pode mudar a vida do casal para sempre. Nos dois sentidos. Esse artigo tem por objetivo conscientizar jovens enamorados a pensar muito antes de aumentar a família, pois percebo muitos casais fazendo filhos e não tendo maturidade suficiente para cuidá-los do jeito que toda criança merece.


Você já se perguntou por que geramos descendentes?


Basicamente, crianças vêm ao mundo por dois motivos: por descuido do casal ou por que os pais (ou um deles) acreditam que o filho irá completá-los (as). Nesse caso, o filho representa aquela centelha da felicidade que ainda falta ao genitor; uma espécie de salvador da Pátria, que irá dar sentido à sua vida.


Certamente há outros fatores que motivam as pessoas a ter filho, por exemplo, corresponder ao que a sociedade espera delas e não ficar para titia ou titio. Mas, de início devo dizer que não acredito que a intenção primeira seja a vontade de presentear um filho com esse mundo lindo e maravilhoso, cheio de justiça, paz e fraternidade. Sabemos que o lugar que ele encontrará não é esse. Ninguém faz um filho pensando primeiro na criança. É antes pensando em si mesmo. Em quais benefícios ela lhe trará. O homem que mal havia saído da pré-história não pensava em controle de natalidade; procriava porque os deuses queriam e pronto. E quanto mais descendente melhor, pois esse novo integrante representava a futura mão de obra (ajuda na lavoura e nos serviços de casa) apoio aos pais na velhice, e soldados para o exército. Hoje, filho não representa mais um auxílio econômico (ao contrário, embora as crianças sejam a alegria da casa, dão despesa) e passou a ter valor emocional, o apoio psicológico na vida do casal.


O pensamento de alguns filósofos niilistas é perturbador, mas gostaria de convidar o leitor a refletir sobre ele: se fôssemos racionais e menos egoístas, não teríamos motivo para colocar bebês no mundo. Antes, adotaríamos todos os infantes abandonados. Pois aí sim, estaríamos exercendo um dos maiores atos de amor. Ora, se fosse dado aos pais uma bola de cristal a fim de saber tudo o que seu filho iria passar, é bem certo que evitariam tanta dor a ele, desistindo da procriação. Quem colocaria um bebê no mundo se soubesse que ele padeceria de uma doença terrível, que o flagelaria por toda a vida ou que, na adolescência, seria atropelado e ficasse numa cadeira de rodas para sempre? Mesmo quando um bebê nasce sadio, terá outros obstáculos à medida que vai crescendo. Cólicas, dores de dente, de ouvido, na primeira infância;  conflitos na adolescência; os medos e inseguranças na fase adulta e na velhice, as dores da idade, que culminam na morte, quase sempre precedida por meses ou anos de melancolia. A vida é tão dura, que a maioria da população precisa do estímulo de drogas para suportá-la. Lembre-se que o álcool e os antidepressivos também são drogas. Cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Para cada ato que termina em morte, há vinte pessoas que tentaram e não conseguiram, muitas vezes deixando sequelas. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).


No entanto, Bertrand Russel, filósofo britânico, criticava os niilistas, dizendo que eles só viam parte do problema, e que o mundo poderia ser um lugar melhor se as pessoas dessem as mãos e lutassem por um lugar melhor de se viver. Estou com Sir Russell, embora às vezes me desanimo com tantas notícias desoladoras: crianças maltratadas e sendo rejeitadas pelos pais, que impelidos por um momento de prazer, não pensaram que daquele ato poderia surgir uma vida.


Ao ler várias pesquisas na internet, vejo que a maioria dos estudos científicos aponta para um resultado nem um pouco politicamente correto: dão que casais com filhos são mais infelizes que casais sem filho. No livro “O Ciclo Vital” de Helen Bee, psicóloga americana, ela concorda com esse pensamento. Ela ainda informa que casais com filhos são insatisfeitos até a hora em que eles saem de casa. Depois disso, a situação se inverte, de modo que os casais que tiveram filhos se tornam mais felizes do que aqueles casais que não os tiveram. A explicação: depois de velhos, a necessidade de se divertir a dois, sair à noite para festas declina vigorosamente, e o casal quer ficar o maior tempo possível em casa. Portanto, aquele casal que teve filhos e agora os vê crescidos, morando em suas próprias casas, sempre que quiser, poderá visitá-los, brincar com os netos, de modo que sentirá menos solidão do que aquele outro casal sem filhos.


Vi outro estudo, no entanto (Universidade de Milão), que mostra que casais com bom rendimento financeiro e têm filhos são mais felizes que casais pobres que têm filhos. É que os casais ricos podem manter a vida social, usufruir dos prazeres que o dinheiro proporciona, têm babás e bons colégios para deixar os filhos, conseguem suprir todas as necessidades básicas que um filho exige: proteção, educação, lazer. Uma das fontes de frustração de casais mais desfavorecidos é não poder dar o mínimo que seus filhos merecem.


Na minha opinião, precisamos relativizar o efeito dos filhos em nossa felicidade. Eles só serão obstáculos se não estivermos preparados psicologicamente para recebê-los. Infelizmente, na mais das vezes, é o que acontece. Acredito também que precisa ter vocação para ser pai ou mãe. E saber renunciar a muitos prazeres da vida de solteiro, porque filho exige responsabilidade, afeto, carinho. E dedicação total dos pais por pelo menos dezoito anos.


Penso que ninguém deveria fazer filho apenas porque os outros estão pressionando ou porque você anda triste com a vida. Se alguém deseja casar e ter filhos, deve estar preparado para tudo que virá pela frente.  Não são apenas beijos e sorrisos enternecedores que irão encontrar; ser pai ou mãe demanda muita paciência, renúncia e responsabilidade. Não há dúvida de que aquelas pessoas cujo temperamento é mais calmo, conciliador, gostam de ficar em casa e adoram crianças terão maiores chances de serem felizes no casamento com prole do que aquelas de espírito livre, amantes da vida noturna, e que são impacientes por natureza. Como esse segundo grupo é a maioria, fica fácil de entender porque as pesquisas revelam tantos casais decepcionados com a missão de cuidar de seus rebentos.


O que não deveria mais acontecer é casais sem estrutura psicológica colocando filhos no mundo. Muitos desses casais vão depois largá-los para outros cuidarem ou os deixarão em orfanatos, na rua, e em lugares piores. Quem está pensando em gerar um filho, devia se perguntar: tenho condições de dar o que a criança merece? Saberei renunciar a assuntos de meu agrado pelo filho? Penso que o mundo já esta cheio de crianças abandonadas pelos pais. Elas não merecem isso.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O sarau de poesias (Sônia Pillon)

A majestosa porta de ferro se abre e a antessala se apresenta
impecavelmente preparada para o recital de poesias. Uma
mesa de centro redonda, com toalha de veludo cor de vinho,
uma mandala formada por cristais e dois castiçais com velas
recepcionava os visitantes e dava o tom retrô ao evento.
O convite indicava que o momento exigia roupagem de
época e alguns convidados levaram a sugestão à risca.
Afinal, a ideia era proporcionar uma viagem no tempo aos
participantes...
Pessoalmente, decidi usar uma saia longa, uma blusa com
botões e tirar do fundo da caixa aqueles colares de pérolas
falsas, até então abandonados, que de repente ganharam vida.
Para completar, um sapato scarpin bordado, comprado em
uma providencial liquidação e utilizado pouquíssimas vezes, e
uma bolsinha de mão, dessas que salvam qualquer modelito,
quando aparece uma festa de última hora...
Pronto! Agora é só recitar os poemas dos dois escritores que
escolhi, com uma linguagem atemporal, e aquele poeminha
modesto, sem grandes pretensões, que escrevi em cima de
reminiscências à beira-mar, criado por mim... Pretendo
utilizar alguns recursos do teatro amador e emprestar emoção
à recitação e, mais importante, fazer de tudo para não
gaguejar na hora, ou errar o texto...
A organizadora toca a sineta e dá as instruções para
o ritual. Um a um, os escritores locais vão timidamente
recitando as poesias de sua escolha. Aos poucos eles vão
se soltando, se deixando tomar pela emoção das palavras
impressas, entrando no clima dos poetas e de suas obras.
Inicialmente, o sarau estava restrito aos escritores
convidados, que se revezavam no toque da sineta e na leitura
das poesias. Depois o público começou a chegar, lentamente
e com certa desconfiança, mas foi ficando. Até os skatistas
que se divertiam com manobras no entorno do prédio
resolveram “conferir o que tava pegando”, atraídos pelo som
produzido pelo violonista.
O clima de magia tomou conta do lugar e o tempo
passava sem que se percebesse. Em determinado momento
do encontro lírico das letras, quando o sol estava se
pondo, o trem passou apitando bem perto e todos ficaram
surpreendidos e encantados ao mesmo tempo. Era um sinal de
confirmação: estava acabando mais uma etapa dos “Saraus de
Poesias nos Trilhos do Trem”. Todos foram embora levando
no peito uma pontinha de saudade...


Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC).

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Sete de Setembro – Independência do Brasil nos tempos de ditadura

O Dia 7 de setembro de 1822 foi muito importante na História do Brasil, pois é
a data em que o príncipe regente Dom Pedro, proclamou a Independência do nosso
país, oficializando o rompimento do vínculo de dependência que o Brasil tinha
com relação a Portugal.
Contudo o dia 7 de setembro tem uma importância especial também na minha vida de
estudante.
Quando pequena, nos anos após ditadura, minha mãe conta que, apesar de pobres,
nossa vida era boa, estudávamos em boas escolas municipais, e pudemos comprar
nosso apartamento em 36 parcelas iguais, sem juros e diretamente com o dono.
Ganhávamos uma roupa nova ao ano, não saíamos para almoçar fora, viajávamos a
cada três anos para visitar a vovó Antonia em São Paulo. Aliás, presente de avó
eram cortes de tecido para uma roupa nova adicional, que mamãe cozia. Meu
padrinho me dava boneca. Certa vez, no Natal, pedi para ele uma calculadora de
quatro operações para ajudar nos estudos da Escola Técnica, tinha meus 16 anos.
Porém, minha lembrança de criança é outra: lembro-me perfeitamente que fazíamos
a fila na entrada da escola para cantar o Hino Nacional, enquanto a bandeira
verde e amarela subia devagarzinho no mastro. Era uma honra esperada por todas
as crianças em ser a escolhida para ser as mãozinhas que hasteariam a Bandeira
Nacional naquele dia.
Eu, por ser a mais nova da turma, e menor também, era a primeira da fila e
portanto, tinha uma vista privilegiada. As professoras organizavam as filas por
altura e entoavam as primeiras sílabas do hino. Naquela época não se podia usar
bandeira fora de eventos cívicos, muito menos cantar o hino a qualquer momento.
Setembro, semana da Pátria, outro grande evento de minha infância.
Ensaiávamos na rua, onde ficava o ginásio e como seria organizado o pelotão, por
série e por altura. Todos marchavam alinhados, no ritmo da batida do
instrumento, pois parte da banda tocaria o Hino da Independência. Que hino
bonito!
Em sala de aula aprendíamos a letra e na rua, ensaiávamos a marcha. Entretanto
a expectativa era ser notada pela professora ou pela coordenadora para ser a
escolhida e ter a honra de carregar a bandeira.
Quando eu tinha 12 anos, fui a escolhida! Que emoção!
E no dia sete de setembro, lá fui eu toda orgulhosa, levando a Bandeira do
Brasil, linda, tremulando ao leve vento e separando dois pelotões de alunos. Eu
vinha à frente da minha turma da 6ª série. E sabem porquê eu fui escolhida? Eu
era a melhor aluna entre todos.
Infelizmente, não tínhamos câmera fotográfica, algo que naquele tempo somente os
ricos podiam ter, assim como eram eles que tinham refrigerante nas refeições e
brinquedos de corda.
Hoje, eu gostaria muito de poder mostrar aos meus sobrinhos, como era o dia Sete
e como eu levava garbosamente a Bandeira do Brasil ao vento.

Elianete Vieira